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SP: manifestação tem tiros, pedradas, atropelamentos e correria pelas ruas

Situação saiu do controle após tentativa de depredação da Câmara Municipal de São Paulo; PM atirou contra o chão, ferindo um fotógrafo

7 set 2013 - 21h12
(atualizado em 9/9/2013 às 12h57)
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Policial atira para o chão após ser cercado por grupo de manifestantes, em São Paulo
Policial atira para o chão após ser cercado por grupo de manifestantes, em São Paulo
Foto: Rocha Lobo / Futura Press

Desde a saída a partir do vão Livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista, o discurso apontava para o confronto. No princípio,  um grupo pequeno adepto ao movimento Black Bloc dizia que não há revolução sem confronto. Livremente, quem quis passou a mão no microfone e se manifestou com a ajuda de um carro de som, que fez as ideias ecoarem pelo entorno. 

Em grande contingente, os policiais militares acompanhavam tudo de perto, estáticos. Mesmo diante de algumas provocações, permaneceram assim  até que a passeata, com cerca de 500 pessoas começasse.

Já na saída, os cones da ciclofaixa paulistana, que separam os ciclistas dos veículos aos domingos e feriados, se transformaram em armas. Centenas foram destruídos e hastes de metal, que seguravam o patrocinador - uma seguradora ligada a um banco - foram recolhidas pelo grupo, para engrossar o armamento, que até ali tinha barras de ferro, pedras, bolas de chumbo utilizadas em pescarias, bolinhas de gude e alguns estilingues.

Não demorou para que as primeiras agências bancárias – um dos alvos preferenciais do movimento - sofressem ataques e tivessem os vidros, que não conseguiram ser quebrados, pichados. A partir daí, o grupo cresceu em tamanho. Ao chegar à avenida 23 de Maio, já era de mais de 1 mil pessoas, número que cresceu um pouco mais na praça da Sé, local em que a depredação e o confronto se intensificaram.

Quando as pistas da avenida 23 de maio foram fechadas, em meio a uma correria, vários motoristas, surpresos com a invasão, acabaram ficando sem saber o que fazer. Dois que vinham na frente, na tentativa de escapar, tiveram os carros atingidos por barras de ferro.

Orelhão foi vandalizado por manifestantes em meio a protesto, no largo São Francisco, no centro da capital paulista
Orelhão foi vandalizado por manifestantes em meio a protesto, no largo São Francisco, no centro da capital paulista
Foto: Vagner Magalhães / Terra

Em meio à correria, até o carro do comando de área da Polícia Militar teve o vidro de trás estilhaçado por um manifestante. 

No trajeto, pedras foram arremessadas contra policiais e até contra veículos que passavam nas alças acima da avenida. Até então os policiais adotavam uma tática defensiva, e se afastavam à medida que os manifestantes se aproximavam.

Quando o grupo chegou ao centro, a situação ficou mais tensa. Em frente à Câmara Municipal de São Paulo, bastaram 3 minutos para que a confusão começasse. Em um primeiro momento, manifestantes começaram a atirar pedras contra as vidraças do prédio. Algumas janelas foram atingidas com êxito.

A Polícia Militar, que já cercava o prédio, respondeu rapidamente, com bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo ao mesmo tempo em que eram atacados com pedras, bolas de gude e bolas de chumbo, utilizadas em pescarias.

Enquanto parte do grupo se dispersou, outra partiu para o enfrentamento, atirando pedras de todos os tamanhos contra os policiais. Nesse momento, uma cena chamou a atenção: vários policiais revidando as pedradas com as mesmas pedras arremessadas pelos manifestantes. 

Perto dali, policiais militares foram atingidos por ovos. Sem entender direito de onde vinham, perceberam que eram arremessados por moradores dos prédios da região.

Manifestantes atacam agência bancária na região da praça da Sé, em São Paulo
Manifestantes atacam agência bancária na região da praça da Sé, em São Paulo
Foto: Vagner Magalhães / Terra

A partir desse momento, a situação, que estava em relativo controle, ficou tensa. Um grupo grande se dirigiu à região da praça da Sé, quebrando tudo o que via pela frente. Dezenas de lixeiras, telefones públicos e fachadas de agências bancárias ficaram totalmente destruídas.

Na confusão, pelo menos quatro pessoas foram atropeladas. Uma delas por uma viatura da Polícia Militar.

O motorista de um Corsa atropelou pelo menos duas pessoas, que sofreram fraturas nas pernas. Elas tiveram um primeiro atendimento por um grupo de médicos solidários à manifestação e com a demora do resgate, foram levados em um táxi para o hospital.

O caso mais grave da tarde aconteceu na praça João Mendes, quando manifestantes derrubaram um policial militar de uma moto. Acuado, ele sacou um revólver e atirou contra o chão. Estilhaços atingiram o fotógrafo da agência Futura Press Tércio Teixeira, que foi socorrido no Grupamento do Corpo de Bombeiros que fica praticamente em frente de onde ocorreu o fato. Depois disso, ele foi encaminhado para a Santa Casa. Um estilhaço ficou alojado em seu queixo.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Colaboraram com esta notícia os internautas Celso Shizen e Dennis Kihara, de São Paulo (SP), que participaram do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

Fonte: Terra
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