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Cidades

SP: com estoque de comida e rodízio, grupo segue acampado na prefeitura

Movimento por moradia quer construção de mais moradias populares e encontro com prefeito Fernando Haddad

16 jul 2013 - 23h28
(atualizado às 23h29)
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Manifestantes que pedem por moradia continuam acampados em frente à prefeitura de São Paulo
Manifestantes que pedem por moradia continuam acampados em frente à prefeitura de São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra

Acampados desde a noite do último domingo em frente à prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, no centro da capital, manifestantes do Movimento Moradia Casa Dez adotaram um sistema de rodízio para manter o protesto "pelo tempo que for necessário", disse nesta terça-feira Paulo Roberto Nunes Viana, coordenador do grupo. Eles pedem que a prefeitura dê início à construção das 55 mil moradias populares anunciadas pelo prefeito Fernando Haddad (PT), desaproprie três terrenos para as obras e amplie o aluguel social a 1,5 mil famílias. E dizem que só sairão do local quando receberem do governo municipal um "sinal" concreto de que as medidas sairão do papel.

Como a maioria dos 200 manifestantes já conta com um lugar para morar, o grupo criou uma escala de rodízio para que o protesto não se esvazie enquanto parte dos acampados precisa ir trabalhar. "Eles acordam às 5h, vão trabalhar, alguém das famílias vem aqui ficar no lugar deles, e voltam à noite", explicou Viana. De acordo com o coordenador do movimento, a entidade listou cerca de 3 mil famílias à espera de uma moradia fixa em São Paulo.

Além do rodízio, improvisaram uma cozinha no Viaduto do Chá, abrigada sobre uma grande tenda de lona preta. No local, voluntários se revezam para cozinhar pratos simples, como arroz, macarrão e café, mas não falta comida: o grupo conta com mais de 5 toneladas em estoque, o suficiente para ficar até três meses acampado.

No mesmo local, improvisaram um banheiro - também escondido em uma tenda de lona preta -, higienizado por eles mesmos algumas vezes por dia, segundo explicaram os manifestantes. "A maior dificuldade é a água, porque aqui na região é caro comprar. Mas já estamos recebendo doações", contou Viana. Desde a segunda-feira, o grupo vem recebendo a visita e o apoio de alguns movimentos sociais de esquerda, e até de um micro-empresário do setor de construção, que procurou os manifestantes para apresentar um projeto de construção de moradia popular "mais barato", para ser levado para discussão com a prefeitura. 

De dia e à noite, os manifestantes se dividem em várias barracas, que ocupam toda a calçada em frente à prefeitura e chamam a atenção de quem passa por lá. Os pedestres reclamam: "não dá mais para andar em São Paulo. Quando não tem manifestação, tem alguém acampado", reclamou uma mulher de cerca de 50 anos, que retornava do horário de almoço do trabalho e não quis ter seu nome divulgado.

Forma de pressão

Na última segunda-feira, o secretário de Relações Governamentais, João Antonio da Silva Filho, aceitou receber o grupo, contanto que as barracas fossem retiradas, já que elas atrapalham o tráfego de pessoas na região, que é bastante movimentada durante o dia. Os manifestantes, entretanto, não aceitaram o pedido.

Já o prefeito Fernando Haddad afirmou, em entrevista na última segunda-feira, que estava aberto ao diálogo com o grupo. “Tenho reuniões frequentes com movimentos por moradia. Semana passada estive reunido com 10 lideranças de movimentos e esse grupo, em particular, não estava representado. Mas estou aberto a me reunir sempre que precisar para explicar que não vou poder destinar 55 mil moradias só para entidades organizadas”, afirmou o prefeito durante visita às obras na Perimetral, em Paraisópolis.

"Já temos 17 mil (casas) em execução e, até o fim de julho, vamos doar mais terrenos para a Caixa para 3 mil novas unidades. Vamos totalizar, então, novas 20 mil em execução neste mês", afirmou o prefeito, na ocasião.

"Nós conhecemos esse jogo: ele (Haddad) acha que vai nos cansar assim, mas está enganado. Não vamos sair tão cedo", disse o coordenador. "Se a gente tira as barracas, por que eles iriam nos receber?", questionou outro manifestante, fazendo coro ao líder.  

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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