SP: após incêndio, parte da favela do Moinho vai virar estacionamento
26 set2012 - 17h26
(atualizado às 17h43)
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Thiago Tufano
Direto de São Paulo
Logo após o incêndio que consumiu cerca de 80 barracos na favela do Moinho, em Campos Elíseos, no centro de São Paulo, no último dia 17 de setembro, parte da área afetada pelo fogo irá se transformar em um estacionamento privado. De acordo com moradores da região e líderes da comunidade, o local do foco do incêndio, sob o viaduto Orlando Murgel, será exatamente a entrada do empreendimento.
A área que dará lugar ao estacionamento era um "matagal", como conta o próprio vice-presidente da comunidade do Moinho Humberto Rocha. "Chamávamos de bosquinho, mas agora já passaram as máquinas", afirmou Humberto, que mora na comunidade há oito anos.
O líder comunitário conta ainda que no dia seguinte do incêndio, 18 de setembro, máquinas já começavam a trabalhar no terreno para iniciar as obras. "Todo mundo acha meio esquisito. Tudo é possível, mas não quero colocar a culpa em ninguém", explicou Humberto.
O terreno pertence à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e foi "cedido" à empresa Terminal Barra Funda Estacionamentos Ltda. ME. em "processo de licitação pública", como informa a própria Ceagesp em nota oficial, para a construção do estacionamento. Humberto conta que acreditou que a propriedade pudesse ser usada para outros fins, como, por exemplo, a construção de moradias populares. "Tinha esperanças", lamentou o líder comunitário.
De acordo com a Ceagesp, a licitação foi realizada em 17 de julho deste ano e foi cedida à tal empresa através de um "Termo de Permissão Remunerada de Uso", uma espécie de aluguel. "A empresa que venceu a licitação está no momento realizando trabalho de benfeitorias no local. A Ceagesp informa ainda que esse terreno nunca foi motivo de disputa com os moradores do entorno e lamenta pelos incidentes ocorridos nas moradias das pessoas que vivem na Favela do Moinho próxima ao mesmo viaduto", disse, em nota.
O Terra entrou em contato com a Terminal Barra Funda Estacionamentos Ltda. ME., mas a empresa não se manifestou, já que o responsável não estava presente.
Favelas incendiadas Em 2011 foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as 34 favelas paulistanas incendiadas desde o início do ano, segundo dados da Defesa Civil. A CPI foi aberta após o incêndio que destruiu várias moradias na favela do Moinho, em Campos Elíseos, no centro de São Paulo. O objetivo dos vereadores é investigar denúncias de moradores que acreditam que os incêndios façam parte de uma manobra de empresas interessadas nos terrenos ocupados pelas favelas.
A recorrência dos eventos levou a prefeitura a colocar em prática, em abril de 2011, o Programa de Prevenção a Incêndios em Assentamentos Precários (Previn). Conforme consta no material enviado pela Defesa Civil à CPI, foram escolhidos 51 pontos críticos em 21 áreas da cidade. As ações incluem medidas como regularização das redes elétricas e planejamento de ações de combate ao fogo, para minimizar os danos e alojar vítimas.
Para fazer a apuração, a comissão enviou ofícios com pedidos de informação aos órgãos públicos ligados à prevenção, combate e apuração das causas desses eventos. Apesar das centenas de desabrigados e das mortes causadas pelo fogo, as respostas enviadas pela Polícia Civil e pelo Corpo de Bombeiros da capital paulista à CPI, apontam que a apuração das causas dessas ocorrências é geralmente inconclusiva. Nem sempre é aberto um inquérito policial ou realizada perícia no local.
A falta de perícia e resultados conclusivos lidera a lista de reclamações dos movimentos sociais. O presidente da CPI, vereador Ricardo Teixeira, justifica dizendo que, apesar da lentidão, as investigações estão acontecendo. "Estamos lendo o relatório da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Tenho feito convocações, temos feito os requerimentos dos laudos", afirmou. Segundo o presidente da CPI, uma nova sessão será realizada no dia 10 de outubro, na Câmara Municipal.
Moradores ficaram sem casa após as chamas consumirem as moradias da favela do Moinho
Foto: Gabriela Bilo / Futura Press
Moradora se desespera ao ver a destruição deixada pelo incêndio
Foto: Gabriela Bilo / Futura Press
Inscrição em uma das casas improvisadas relata a dificuldade do cotidiano na favela
Foto: Gabriela Bilo / Futura Press
Foto: Terra
Incêndio atinge a favela do Moinho, em Campos Elísios, no centro de São Paulo
Foto: Alberto Rando / Futura Press
Um incêndio atingia na manhã desta segunda-feira a favela do Moinho, localizada sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel, em Campos Elísios, região central de São Paulo
Foto: Adriano Lima / Terra
A comunidade fica em um local de difícil acesso, entre as linhas usadas pela CPTM
Foto: Adriano Lima / Terra
Segundo o Corpo de Bombeiros, foram enviadas 18 viaturas para combater as chamas
Foto: Adriano Lima / Terra
De longe, era possível ver a grande nuvem de fumaça formada pelo incêndio
Foto: Caio Telles / vc repórter
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego, viaturas interditaram o viaduto que fica sobre a favela
Foto: Adriano Lima / Terra
Moradores da comunidade tentavam resgatar seus pertences
Foto: Adriano Lima / Terra
Bombeiros ajudam moradores da comunidade a salvar seus objetos pessoais
Foto: Adriano Lima / Terra
Fogo é visto pelos corredores da favela
Foto: Adriano Lima / Terra
Moradores retiram máquina de lavar de dentro de casa, enquanto as chamas começavam a ficar mais claras
Foto: Adriano Lima / Terra
Bombeiros apagam chamas; em dezembro do ano passado, a favela também sofreu um grande incêndio, que destruiu boa parte das moradias
Foto: Adriano Lima / Terra
Moradores ajudam os bombeiros a controlar as chamas
Foto: Adriano Lima / Terra
Incêndio de grandes proporções volta a atingir a comunidade
Foto: Gabriela Bilo / Futura Press
Bombeiros controlam chamas que destroem casas na favela do Moinho
Foto: Edson Junior / Terra
Moradores tentam tranquilizar senhora, nervosa com as chamas que consomem as casas da comundiade
Foto: Edson Junior / Terra
Botijões de gás são retirados das casas para evitar o risco de explosão
Foto: Edson Junior / Terra
Morador sobe no telhado para tentar apagar as chamas
Foto: Edson Junior / Terra
Fogo destrói casa, e moradores tentam apagar as chamas
Foto: Edson Junior / Terra
Moradores ajudam bombeiros a apagar o incêndio que consome a comunidade
Foto: Edson Junior / Terra
Criança é levada para longe do incêndio, onde as chamas provocam calor e fumaça
Foto: Edson Junior / Terra
Este é o 34º incêndio registrado em favelas da capital paulista desde janeiro deste ano
Foto: Anderson Teixeira / vc repórter
O viaduto sobre a favela foi interditado para o trabalho dos bombeiros
Foto: Anderson Teixeira / vc repórter
Incêndio afetou a circulação de 17 linhas que utilizam o viaduto Engenheiro Orlando Murgel
Foto: Anderson Teixeira / vc repórter
Do terminal Amaral Gurgel, era possível observar a fumaça do incêndio na favela do Moinho
Foto: Eduardo Medeiros / vc repórter
Moradora da favela observa galpão após bombeiros apagarem as chamas
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Bombeiros fazem o trabalho de rescaldo na favela do Moinho
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Meninos moradores do Moinho olham o trabalho dos bombeiros
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Foto: Terra
Funcionários da prefeitura trabalham na assistência às vítimas do incêndio da Favela do Moinho manhã desta quarta-feira
Foto: Adriano Lima / Terra
Guardas civis metropolitanos também foram ao local onde as chamas destruíram barracos na segunda-feira
Foto: Adriano Lima / Terra
Barracos completamente destruídos pelas chamas terão de ser derrubados
Foto: Adriano Lima / Terra
O viaduto Orlando Murgel pode ter sofrido um abalo estrutural após o incêndio
Foto: Adriano Lima / Terra
Funcionário trabalha na remoção de entulhos na favela
Foto: Adriano Lima / Terra
Morador acompanha trabalho de limpeza dos funcionários
Foto: Adriano Lima / Terra
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) liberou parcialmente, na manhã desta quarta-feira, o tráfego de veículos no viaduto Orlando Murgel