PUBLICIDADE

Sociólogo culpa PF e Marinha por acesso de traficantes a armas

22 out 2009 - 07h36
(atualizado às 08h32)
Compartilhar

Na véspera de completar uma semana sem trégua, a violência nas favelascariocas, sobretudo na zona norte da cidade, provoca reflexões variadasentre acadêmicos dedicados ao tema e pessoas diretamente ligadas àparcela mais pobre da sociedade local, espremida entre traficantes dedrogas em guerra e a ação policial nos morros e no asfalto.

Coordenador do Programa de Controle de Armas da organização não governamental Viva Rio, o sociólogo Rangel Bandeira, considera imprescindível rever o modelo do combate à violência, a partir das Forças Armadas e das polícias, "dois setores da sociedade que não foram democratizados depois da ditadura".

"Oque está por trás desta crise que já dura 25 anos é a escaladaarmamentista, resultado da facilidade com que as armas pesadas chegamao narcotráfico. A Baía de Guanabara é um shopping noturno, lanchaslevam todo tipo de contrabando para as favelas. Onde está a PolíciaFederal? Não trabalha à noite. E a Capitania dos Portos da Marinha?Jogando vôlei".

Rangel lembra que em 2005 a CPI das Armas daCâmara dos Deputados apurou que 68% das armas pesadas apreendidas combandidos tinham origem em oito lojas, mas nada foi feito. "Oresponsável pelo comércio de armas no país é o Departamento deFiscalização de Produtos Controlados, do Exército, que não fiscalizanada porque não tem condições, mas não deixa ninguém fiscalizar. Porque?".

Em depoimento à CPI, em 2005, um traficante de drogaspreso admitiu que as armas estrangeiras "passeiam tranqüilamente pelasestradas", segundo o sociólogo: "Não tem polícia nem federal, nemrodoviária, nem Forças Armadas, nada. O que vemos é a compra de maisarmamento e munição pelas polícias, mais desvio para os bandidos, maiscorrupção. Enfim, mais do mesmo. E assim não se chegará a nenhumasolução".

Para radialista Verônica Costa, três vezes vereadora eleita por jovens da periferia, a violência nas favelas se deve a falta de perspectiva dos jovens. "Você vê meninas de 13 anos grávidas, uns bebês com outros bebês na barriga, vê garotos de 15 anos que dizem abertamente, morrer para mim élucro. Não têm autoestima, nenhuma perspectiva de futuro, e ninguémfaz nada, nem escola, nem governo, ninguém está preocupado com eles",queixa-se.

Baseado no mesmo estrato social que a ex-vereadora, mas com objetivos diferentes, MC Leonardo, presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk, aponta uma solução tão simples quanto polêmica: "Tem que legalizar as drogas. O que você não consegue conter tem que regulamentar. É como o aborto, não adianta proibir. Se liberar as drogas, daqui a 50 anos meus netos vão dizer cara, naquele tempo tinha fuzil na favela, tinha criança armada. O problema é que a legalização vai contra interesses mais fortes, o comércio de armas", analisa.

Ao mesmo tempo em que se confessa abismado, MC Leonardoatribui o cenário dos últimos dias ao que considera erro estratégico"de tanta política de caveirão e de blindado subindo as favelas".

"A polícia deixa um rastro de insegurança e de prejuízo na comunidade,comércio fechado, escolas sem aulas, população com medo", resume. "Epior é que esta não é uma situação do Rio de Janeiro, é nacional, é internacional. Os maiores consumidores de drogas são os Estados Unidos, que são contra a legalização porque interessa alimentar a guerra do tráfico, as armas de um lado e de outro".

VerônicaCosta concorda e joga mais lenha na fogueira da discussão: "Eu achoisso tudo um escândalo internacional. Há pouco tempo um atirador deelite da polícia acertou a cabeça de um sequestrador ali mesmo em VilaIsabel e a população aplaudiu. Agora derrubaram um helicóptero e apolícia promete vingança. E no meio dessa escalada, as pessoas estãopreocupadas com Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio".

Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade