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Sem racionamento, Campinas pode ficar totalmente sem água

11 mar 2014 - 22h12
(atualizado às 22h27)
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<p>Família de capiravas nadam além dos marcadores de nivel d'água em Bragança Paulista</p>
Família de capiravas nadam além dos marcadores de nivel d'água em Bragança Paulista
Foto: Paulo Whitaker / Reuters

A região de Campinas pode ficar sem água para o consumo humano e uso industrial em 80 dias se a estiagem atípica associada a altas temperaturas persistirem com essa intensidade nos próximo meses. As bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) podem ir a mingua e ofertar um volume insuficiente, pior, com alta concentração de poluentes. 

Nos meses de janeiro e fevereiro, tradicionalmente considerados o período "das águas", choveu muito pouco e quantidade insuficiente para abastecer os reservatórios e renovar os mananciais. Para evitar um colapso proveniente da falta d'água, em um período característico de seca - outono e inverno - faz-se necessário a imediata adoção de rodízio, racionamento e contingenciamento do fornecimento de água tratada a população.

Esses temas ligados à atual situação hídrica da Grande São Paulo e interior e as implicações negativas a curtíssimo prazo foram levantadas nesta terça-feira em Campinas. O plenário da Câmara Municipal reuniu membros do Ministério Público Estadual do Meio Ambiente, Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) regional, ambientalistas, vereadores de dezenas de municípios, pesquisadores científicos, representantes de empresas de captação e tratamento de água, associações e representações de organizações não governamentais ligadas ao meio ambiente.

A reserva de água das chuvas ocorre principalmente de outubro a março. Mas em 2014, essa época foi de seca e a preocupação é que, se continuar neste ritmo, a estiagem vai se agravar e faltará água em São Paulo.

Segundo o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), Francisco Carlos Castro Lahóz, entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014, a vazão das precipitações foram excepcionalmente baixas e um alerta já havia sido dado sobre o problema.

O PCJ é guarnecido com a água oriunda do Sistema Cantareira (sistema de represas formada pela vazantes do Jaguarí/Jacareí, Piracaia, Cachoeira, Atibainha e Paiva Castro). Na última semana a vazão está menos de 20%. Hoje, era de 15% do volume de água disponível.

Estiagem e possível falta de água foi tema de encontro na Câmara Municipal de Campinas
Estiagem e possível falta de água foi tema de encontro na Câmara Municipal de Campinas
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra

O PCJ nasce na Grande São Paulo e termina no Piracicaba e é responsável pelo abastecimento de 22 municípios e um total de 14 milhões de habitantes. Na região metropolitana de São Paulo (RMSP), na boca do Sistema Cantareira, são 22 milhões de habitantes.

Racionamento, rodízio, contenção de água

"As consequências negativas são para todos os municípios envolvidos. O PCJ tem trabalhado nesta questão e falado de um plano de contingência já bem antes de 2014", disse Lahóz. "Todos as cidades da região do PCJ já tiveram algum tipo de problema para a retirada de água de seus mananciais", disse.

O pesquisador Antonio Carlos Zufo, do departamento de recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas  (Unicamp) em um estudo encomendado para o PCJ alerta que, é até possível prever períodos chuvosos ou de seca. 

Ele disse que a atual situação pede um contingenciamento do uso da água. "Indústrias podem interromper produção por um ou dois dias. O racionamento pode evitar catástrofe. Estamos falando de redução do consumo." Segundo ele, uma solução é o rodízio do abastecimento. "Verificamos uma situação caótica de provável desabastecimento. É que, a cada 4 dias, era consumido 1% das reservas."

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O presidente do Ciesp regional Campinas, José Nunes, disse que o racionamento no fornecimento de água tratada pode significar um grande prejuízo para as empresas, mas no atual cenário hídrico do interior seria a solução momentânea.

"O racionamento é necessário. É claro que isso nos preocupa, mas o que mais nos preocupa é a falta de água", falou. Segundo o empresário, as indústrias deverão se adaptar a essa cultura. "As indústrias instaladas podem perder valor, muitas têm ações nas bolsas de valores. Sabemos disso. Mas alguma coisa tem que ser feita", disse, lembrando que empresas que utilizam água bruta e fazem captação na boca do rio já interromperam linhas de produção por causa da baixa oferta.

A promotora do meio ambiente Alexandra Faccioli Martins destacou a importância da atuação em conjunto entre as entidades. Ela lembrou que, em fevereiro, a mortandade de seis toneladas de peixes constata nas margens do rio Piracicaba foi em decorrência da água insuficiente. Em plena piracema (quando os peixes sobem o rio para desovar e é proibido pescar), a população procurou as autoridades para denunciar a quantidade enorme de peixes mortos.

"A Cetesb comprovou que a baixa vazão do Piracicaba e a falta de oxigênio na água provocaram a mortandade", disse. Para ela, a ocorrência foi uma reunião de fatores adversos, como baixa oferta de água no rio aliada a concentração de poluentes. "Foram peixes de vários tamanhos, filhotes, várias espécies, em um período de reprodução. Temos que lamentar e que sirva de lição."

Fonte: Especial para Terra
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