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SE: protesto tem ônibus queimado, agressão a jornalista e 2 atropelados

25 jun 2013 - 23h46
(atualizado em 26/6/2013 às 00h05)
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Um ônibus da Viação Modelo foi parado por alguns manifestantes, que começaram a depredação
Um ônibus da Viação Modelo foi parado por alguns manifestantes, que começaram a depredação
Foto: Tirzah Braga / Especial para Terra

Ao contrário do que aconteceu no primeiro protesto, realizado na quinta-feira (20), que ocorreu com tranquilidade, cenas de vandalismo e depredação foram vistas na manifestação desta terça-feira em Aracaju. Vândalos quebraram um ônibus, jornalistas foram agredidos e duas pessoas foram atropeladas, sem ferimentos graves, segundo a Polícia Militar. 

Os manifestantes se reuniram no final da tarde desta terça-feira, na praça Fausto Cardoso, centro de Aracaju, para protestar contra o aumento da tarifa do transporte público e do novo preço estabelecido pela prefeitura e aprovado pela Câmara de Vereadores da cidade. Há cerca de dois meses, a tarifa passou de R$ 2,25 para R$ 2,45, valor que foi reduzido posteriormente para R$ 2,35, o que gerou a instisfação dos manifestantes. 

Segundo Cleidson Carlos, um dos coordenadores do Movimento Não Pago, eles entendem a indignação dos manifestantes, mas não apoiam essas atitudes. “Nós, do Movimento Não Pago, não compactuamos com qualquer tipo de violência e depredação. Nos momentos em que vimos essas cenas acontecerem, fizemos de tudo para acabar, porém, não temos como ter controle de todos que estão aqui. Na prefeitura, vimos a demonstração de insatisfação do povo de ver como a atual administração trata o transporte público como mercadoria”, disse o coordenador.

Adesão popular e novo caminho

A organização da passeata escolheu avenidas diferentes das percorridas na última manifestação, e não houve divisão de grupos como na última quinta-feira. Após percorrerem as avenidas Ivo do Prado, Barão de Maruim, Desembargador Maynard e Augusto Franco, quatro das principais vias da cidade, os manifestantes chegaram à sede da prefeitura como forma de pressão ao prefeito da cidade, João Alves Filho (DEM). Assim como na primeira manifestação, os órgãos públicos e estabelecimentos comerciais fecharam as portas no início da tarde.

Sem o alvo do protesto e com portões fechados, um grupo de manifestantes tentou invadir o prédio, derrubou um portão e quebrou vidraças. Neste momento, a Polícia Militar, que se mantinha distante do grupo, foi chamada e atendeu ao pedido com a Tropa de Choque. Com cerca de 60 homens, a PM dispersou os manifestantes.

O caminho do grupo - que segundo informações da PM foi de oito mil manifestantes e, de acordo com o Movimento Não Pago, 15 mil - seguiu para um dos principais viadutos da cidade. 

No mesmo local em que terminou a última manifestação, o grupo, já menor e com cerca de mil manifestantes, interrompeu o trânsito e continuou o protesto no local. O estudante universitário Magno Cruz concorda com a ação de alguns integrantes do grupo.

“Acho que o povo está cansado de tanta coisa errada e tem nesse momento uma maneira de se manifestar, de se mostrar preocupado com o futuro do País. Vi muito jovens que provavelmente não tinha envolvimento político antes. Saímos de uma sociedade apolítica”, afirmou.

Enquanto muitos paravam o trânsito e cantavam o hino nacional, outra parte seguia com cenas de vandalismo. Um ônibus da Viação Modelo foi parado por alguns manifestantes, que começaram a depredação. Durante cerca de uma hora, os manifestantes quebraram vidraças e tentaram pôr fogo no veículo. Novamente, o pelotão de choque foi chamado, mas evitou o conflito com os manifestantes, se retirando do local. 

Com ataques aos profissionais de imprensa que estavam no local somados a ações de vandalismo, o batalhão de choque da Polícia Militar voltou ao local da manifestação para o confronto. Bombas de gás lacrimogêneo foi usado e a cavalaria da Pm entrou em ação para dispersar o grupo que ainda estava no local, encerrando o manifesto. 

Segundo o comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar, major Carlos Rollemberg, 140 homens fizeram parte da ação. 

Para o Não Pago, a manifestação foi satisfatória. “Achamos que foi positivo e que conseguimos o nosso foco, que era protestar contra a tarifa. É claro que os incidentes não são vistos de forma positiva para nós, mas a organização popular, sim”, disse Cleidson Carlos.

Jornalistas são agredidos

Profissionais da imprensa foram alvos de xingamentos e agressões por alguns manifestantes. No início do protesto, a equipe do Jornal da Cidade foi ameaçada por alguns rapazes que se juntavam ao grupo de manifestação. 

Na chegada à sede da prefeitura, a repórter cinematográfica Ana Lícia Menezes, do jornal Cinform, foi atingida na testa por uma pedra arremessada do meio da multidão
Na chegada à sede da prefeitura, a repórter cinematográfica Ana Lícia Menezes, do jornal Cinform, foi atingida na testa por uma pedra arremessada do meio da multidão
Foto: Tirzah Braga / Especial para Terra

Na chegada à sede da prefeitura, a repórter cinematográfica Ana Lícia Menezes, do jornal Cinform, foi atingida na testa por uma pedra arremessada do meio da multidão. “Tentei me proteger, mas de uma forma que conseguisse realizar o meu trabalho. Nem vi de onde partiu a pedra que atingiu a minha cabeça. É lamentável que nós, profissionais de imprensa, tenhamos que passar por isso. Estava trabalhando”, ressaltou a repórter.

As equipes da TV Sergipe, afiliada da Rede Globo, receberam ameaças durante todo o percurso. Na chegada ao Viaduto Carvalho Déda a equipe foi expulsa pelos manifestantes. No mesmo local, o repórter da TV Atalaia, afiliada da Rede Record, Evenilson Santana, foi alvo de fogos de artifícios, lançados por um manifestante. “Eles tentaram me agredir duas vezes com um ‘buscapé’, mas, nas duas vezes, o objetivo não foi alcançado por muito pouco”, disse Santana.

Busca a vândalos

Mesmo após o fim da manifestação, o Batalhão de Choque fez ronda pelos bairros próximos ao local do fim do protesto. Há suspeita de que membros de torcidas organizadas de Aracaju aproveitaram o protesto para entrar em confronto. 

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

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Fonte: Especial para Terra
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