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RJ: protesto fecha avenida e, sem querer, testa projeto de Paes para 2016

Via ficou fechada por quase cinco horas por manifestantes. Prefeito quer transformar trecho da avenida em boulevard

15 ago 2013 - 17h35
(atualizado às 17h38)
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Via ficou fechada por quase cinco horas em função dos manifestantes que protestam contra o andamento da CPI dos Ônibus
Via ficou fechada por quase cinco horas em função dos manifestantes que protestam contra o andamento da CPI dos Ônibus
Foto: Daniel Ramalho / Terra

A manifestação e ocupação da Câmara Municipal dos Vereadores do Rio de Janeiro contra o andamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Ônibus, que teve sua primeira sessão bastante tumultuada na manhã desta quinta-feira, fechou por quase cinco horas uma das vias de maior fluxo do centro da capital fluminense: a avenida Rio Branco. E, de quebra, produziu um efeito colateral que nem os políticos da Câmara, os próprios ativistas e o prefeito Eduardo Paes esperavam: promoveu um teste forçado do projeto de transformar um trecho da Rio Branco em boulevard, em 2016.

Palco histórico de manifestações como a Marcha dos 100 mil, de 1968, da mesma forma que tem importância arterial para o trânsito da região, a avenida Rio Branco, desde a primeiro mandato do prefeito, vem sendo especulada para se transformar num boulevard, dentro do cronograma de revitalização do centro e da região portuária por parte da prefeitura do Rio.

Muitos aproveitaram o momento único para passear pela rua. A cena mais vista era de pessoas tirando fotos de si mesmas enquanto caminhavam pelo meio da via
Muitos aproveitaram o momento único para passear pela rua. A cena mais vista era de pessoas tirando fotos de si mesmas enquanto caminhavam pelo meio da via
Foto: Daniel Ramalho / Terra

No início, a ideia era fechar praticamente toda a avenida e retomar o charme de décadas passadas, quando a antiga avenida Central, inaugurada há 111 anos, foi concebida nos moldes parisienses e era tida como demasiadamente larga para os padrões da época. Agora, o Boulevard Rio Branco, com inauguração prevista para 2016, compreenderá um trecho menor, entre a avenida Nilo Peçanha e rua Santa Luzia. De acordo com a prefeitura do Rio, o projeto está em fase de análise pelo Tribunal de Contas do Município (TCM).

“Meu amigo, não vou reclamar, não, ficou mais fácil minha vida, estou entregando as marmitas rapidinho”, comemorou o entregador Luís Henrique Rodrigues, 19 anos, que com sua bicicleta ganhou “pelo menos uns cinco minutos por cada entrega”.

O aposentado Edson Rosa preferiu levar a situação mais ao extremo. Na esquina com o Theatro Municipal, ele colocou a mochila no chão, no meio da avenida, se deitou e de lá não saiu até o tráfego ser retomado após o clima na Câmara ficar mais tranquilo – por volta de 16h45. “Já estou deitado aqui há umas quatro horas”, disse. “Estou aqui pelo Amarildo, podia ser meu parente”, completou, sobre o pedreiro desaparecido há um mês na Rocinha.

"Meu amigo, não vou reclamar, não, ficou mais fácil minha vida, estou entregando as marmitas rapidinho", comemorou o entregador Luís Henrique Rodrigues, 19 anos, que com sua bicicleta ganhou "pelo menos uns cinco minutos por cada entrega"
"Meu amigo, não vou reclamar, não, ficou mais fácil minha vida, estou entregando as marmitas rapidinho", comemorou o entregador Luís Henrique Rodrigues, 19 anos, que com sua bicicleta ganhou "pelo menos uns cinco minutos por cada entrega"
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Por mais que o trânsito na esquina da avenida Presidente Vargas, início da interdição, tenha ficado bastante complicado, muitos aproveitaram o momento único para passear pela rua. A cena mais vista pela reportagem do Terra era de pessoas tirando fotos de si mesmas enquanto caminhavam pelo meio da via, caso do mediador judicial Paulo Viegas.

“Isso aqui é inédito, não resisti e parei para tirar uma foto. Um momento como esse a gente tem que registrar. Tomara que toda essa questão lá na Câmara seja resolvida sem violência”, afirmou. Mesmo caso do professor Pedro Reis, que após fazer a sua imagem, confessou estar “feliz demais, o povo tem que ir mesmo às ruas, estou orgulhoso”.

Confusão pela manhã

A ocupação da Câmara Municipal de Vereadores do Rio continuou tensa na manhã desta quinta-feira, quando ocorreu a primeira sessão da CPI dos Ônibus, a pauta principal de reivindicações dos manifestantes. A reunião já teve início conturbado quando o vereador Eliomar Coelho (Psol), integrante da comissão, abandonou o local ao se dizer contrário ao grupo cujo relator e presidente são do PMDB e ligados ao prefeito Eduardo Paes.

Coelho, que em entrevista ao Terra nesta semana já afirmara que “não seria recheio de pizza” da CPI, se recusou a trabalhar na comissão, cujo presidente e relator são os vereadores Domingos Brazão (PMDB) e Professor Uóston (PMDB), respectivamente.

Ao sair da plenária da Câmara, ambos foram hostilizados e agredidos com tapas e ovos atirados por manifestantes – Uóston chegou a ser atingido duas vezes pelos ovos. Seguranças dos vereadores revidaram com socos e empurrões e o clima ficou ainda mais tenso. Com ajuda do efetivo da Polícia Militar, eles conseguiram embarcar em dois táxis e deixar o local.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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