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RJ: Black Bloc critica próprios membros por vandalismo e anuncia mudança

Grupo faz autocrítica no Facebook e chama parte de seus integrantes de 'imbecis' por danos ao patrimônio e violência

26 ago 2013 - 14h27
(atualizado às 17h54)
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<p>Manifestantes dos grupos Black Blocs e Anonymous fazem protesto, em 7 de agosto </p>
Manifestantes dos grupos Black Blocs e Anonymous fazem protesto, em 7 de agosto
Foto: Daniel Ramalho / Terra

O movimento Black Bloc, do Rio de Janeiro, fez uma autocrítica nesta segunda-feira às suas atividades nas manifestações através de sua página no Facebook e anunciou que, a partir de agora, só vai participar de protestos convocados pelo próprio grupo. Num texto longo, eles chamam parte de seus integrantes de "imbecis" por saírem às ruas quebrando bancas de jornais e carros.

"A destruição do patrimônio público e privado à 'la bangu' tem sido frequente e muitas vezes de forma injustificável! Banca de jornal atacada? Por quê? Pra quê? (...) O que temos visto é um descontrole, um corre-corre, perdoem-nos o termo, imbecil, que só faz dispersar o grupo, tornando a palavra 'bloco’ uma piada! E muitas vezes, desse corre-corre, temos como resultado carros danificados, lixo na rua e patrimônio privado e público destruído sem justificativa alguma", escreveram.

Em várias partes do texto chamam os manifestantes que não são do Black Bloc de "coxinhas”, mas admitem que é legítimo que eles também saiam às ruas e façam seus protestos. "Os coxinhas devem ter seu espaço! Assim como os demais grupos. Devemos lembrar, antes de mais nada, que não somos donos das manifestações alheias e públicas, portando, não somos nós que devemos conduzi-las."

Eles afirmaram que não podem interferir no resultado de um protesto não convocado por eles. "Ainda mais por causa de adolescentes que ainda não conseguem controlar seus hormônios", afirmaram. De acordo com o texto, muitos adolescentes vão às ruas apenas para se divertir ou para brigar com a PM.

O Black Bloc disse também que a mídia é contra o movimento, mas que a atitude de boa parte dos integrantes é que faz com que as pessoas sejam cada vez mais contra o grupo, que se veste de preto e sai à rua mascarado. "A rejeição do povo não é boa, porque nós somos o povo e deveríamos representá-los", escreveram os integrantes.

Os Black Blocs disseram que estão se sentindo isolados nas ruas. "Se o povo não concorda com nossa atuação, não temos motivo de agir junto dele, nem razão para estarmos ali, e por isso reafirmo que estamos isolados, ao ponto de tacarem talheres dos prédios" disseram os membros do grupo.

No fim da nota, o movimento diz que não quer impor a nenhum dos integrantes um modo de agir e pede que, nas próximas manifestações, o próprio grupo controle a ação dos violentos, que eles chamam de "imaturos". "Devemos rever a tática Black Bloc urgentemente, e para isso, na próxima convocação, antes de sair de casa, pense nisso tudo que você acabou de ler aqui, para que tenhamos um diálogo produtivo, assim como uma ação produtiva."

Os membros do Black Bloc terminam dizendo ao "coxinhas" que podem convocar a manifestação que quiserem porque estão mudando de rumo, "deixando de ser esse grupo de maratonistas sem ideal e sem união".

Críticas

Logo após a publicação do texto, muitos dos seguidores dos Black Blocs acusaram a própria "liderança" da página no Facebook de tornar o movimento motivo de piada nas ruas. Outros acusaram o comunicado de querer dar ordens a um grupo que, em teoria, não tem liderança.

 Outros celebram o exercício de consciência, afirmando que até mesmo pessoas que antes apoiavam o movimento agora estão hostilizando os membros do grupo quando saem às ruas.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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