Rio: índios protestam contra demolição da Aldeia Maracanã
Os índios da Aldeia Maracanã, uma ocupação em um prédio antigo próximo ao histórico estádio de futebol do Rio de Janeiro, realizaram nesta sexta-feira um ato em apoio ao povo guarani-kaiowá e contra a demolição de seu espaço, ameaçado pelas obras da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Apoiados por membros de movimentos sociais e culturais, indígenas de diversas etnias manifestaram apoio à tribo dos guarani-kaiowá, do Mato Grosso do Sul que, acampados à beira de uma estrada desse Estado, reivindicam a demarcação de suas terras ancestrais.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, indica que pelo menos 12 líderes guarani-kaiowá foram mortos na última década por pistoleiros contratados por proprietários de terras. Para Suzana Samaiego, índia guarani-kaiowá que foi ao Rio visitar seus filhos e participar do ato, a maior dificuldade é resistir e "lutar por suas terras sem o apoio de ninguém" e em meio à violência. Ela conta que uma de suas sobrinhas foi estuprada e morta por homens armados e nada foi feito em relação aos culpados.
Recentemente, esta comunidade declarou em uma carta, que circulou o mundo inteiro, que estava disposta a ter uma "morte coletiva" para não abandonar suas terras. Já os índios que ocupam este prédio construído no coração do Rio de Janeiro, que já abrigou o antigo Museu do Índio, defendem o direito de permanecer no local, que foi ocupado há mais de seis anos e transformado desde então em um centro de cultura indígena, já que o governo do Estado anunciou sua intenção de demolir o edifício histórico para as obras da Copa de 2014.
Carlos Tucano, cacique da Aldeia Maracanã, explicou a situação das tribos que ocupam o local. "Estamos aqui para dizer ao Brasil e ao mundo quem somos nós, trazendo a nossa história que nunca foi respeitada (...), mas com o anúncio da Copa do Mundo de 2014 estamos nos sentindo ameaçados de expulsão. Não somos contra os eventos esportivos, apenas reivindicamos o nosso espaço", disse
Em declarações concedidas no mês passado, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), afirmou que "o Museu do Índio, perto do Maracanã, será demolido. Vai virar uma área de mobilidade e de circulação de pessoas. É uma exigência da Fifa e do Comitê Organizador Local", embora a Federação Internacional de Futebol tenha negado que tivesse solicitado esta demolição.
"Só sabemos do que as autoridades pensam através da imprensa. É uma pressão psicológica. Nunca ouvimos a voz do governo, do prefeito e de nenhuma autoridade sobre o nosso destino, só sabemos que querem demolir", lamenta Tucano. A esperança do cacique é que "o governo e a Fifa se sensibilizem com a questão dos povos indígenas". Ele afirmou que os índios estão dispostos a negociar, desde que sejam deslocados para um local digno.
Com cartazes exigindo "respeito à cultura e ao povo indígena", cerca de 200 pessoas participaram do ato. Os índios conseguiram uma primeira vitória no final de outubro com a determinação do juiz Renato César Pessanha de Souza, que determinou que o estado do Rio e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) não expulsem os índios, atendendo a um pedido da Defensoria Pública da União.
Além da Aldeia, estão previstas as demolições de duas instalações do complexo esportivo do Maracanã: o estádio de atletismo Célio de Barros e o parque aquático Júlio Delamare.