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Polícia

Rio: especialista defende identificação de favelas como locais de 'alto risco'

Um engenheiro foi baleado na noite de sábado, no Complexo da Maré, após errar um retorno ao voltar do Aeroporto Internacional Tom Jobim

10 jun 2013 - 16h52
(atualizado às 16h58)
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<p>Suspeitos de balear engenheiro se entregaram à polícia nesta segunda-feira</p>
Suspeitos de balear engenheiro se entregaram à polícia nesta segunda-feira
Foto: Celso Barbosa / Futura Press

O caso do engenheiro Gil Augusto Gomes Barbosa, 50 anos, baleado na noite de sábado, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, após errar um retorno ao voltar do Aeroporto Internacional Tom Jobim, traz à tona uma questão alarmante para o Rio: que perigos os turistas nacionais e estrangeiros, que estarão na cidade para os grandes eventos, poderão enfrentar ao circular em vias com sinalização precária em áreas de alta criminalidade? 

Férias frustradas no Brasil: quando turistas viram vítimas

A sugestão de Celso Franco, ex-diretor da CET-Rio e colunista de trânsito do Jornal do Brasil há 48 anos, é simples e direta: colocar placas indicando “zonas de alto risco” em todas as vias de acesso às favelas da cidade. “É fundamental para que o motorista saiba onde ele está entrando. E controlar o acesso às favelas. Sem isso, a pacificação é como enxugar gelo”, criticou o colunista do JB. 

Celso Franco lembra que esta medida foi tomada em Nápolis, na Itália, em 1946, e no Marrocos, em áreas que apresentavam um alto índice de criminalidade. O especialista lembra ainda que uma pacificação sem controle de acesso às comunidades é ineficaz: “Isso é fundamental até para os cidadãos de bem que vivem lá dentro. Se todo e qualquer condomínio tem controle de acesso, por que as favelas não tem?”, questionou. 

A coordenadora da ONG Rio Como Vamos, Thereza Lobo, disse que é fundamental mudar a sinalização naquela área: “É um problema sério de mobiliário urbano. A sinalização, que tem que ser absolutamente clara, visivelmente não ajudou”, disse Thereza. “Sempre que acontece algo assim, a cidade fica em alerta, e ela tem de estar preparada para os grandes eventos, e ainda depois disso”, lembrou a coordenadora. 

Em contrapartida, Thereza faz uma observação importante: o Complexo da Maré não é referência negativa em nenhum dos principais indicativos de violência (auto de resistência, homicídio doloso, latrocínio, roubo de rua e furto de veículos). Ainda assim, ela também considera que as melhorias na segurança da cidade têm de vir o quanto antes.

“A cidade tem de ser mais calorosa, e não perigosa, seja por falta de sinalização ou pela violência em certas áreas. Quem sabe não aprendemos com os próximos eventos?”, finalizou.

Paes descarta sinalização de alerta

O prefeito Eduardo Paes deixou claro nesta segunda-feira que não irá colocar qualquer sinalização na cidade para indicar áreas perigosas: "Não vamos colocar placa para indicar área de violência. O Rio está passando por muitas transformações e uma grande transformação é na segurança pública. Esse comando dos traficantes em determinadas áreas e esse desrespeito pela vida humana é que têm que acabar. E eles sabem que isso é só uma questão de tempo", garantiu Paes, que ainda reconheceu que a cidade precisa, sim, de melhor sinalização, mas que “isso está mudando”.

Em maio deste ano, mais uma pessoa foi vítima de violência ao entrar por engano em uma favela do Rio. Mesmo num carro blindado, o assistente de direção da Rede Globo, Thomaz Cividanes, foi atingido na perna ao entrar no Morro do 18, em Água Santa. 

Nesta segunda-feira, a Polícia Militar informou que o Complexo da Maré, área de confronto entre duas facções criminosas, será pacificado em breve. Só não ficou claro se isso acontecerá durante esta semana ou após a Copa das Confederações, que começa neste sábado.

Um morador da Maré, que não quis se identificar, disse que ouviu uma sequência de pelo menos dez tiros disparada na noite de sábado, quando o engenheiro foi baleado. Segundo relato do morador, o carro entrou com o farol aceso e em alta velocidade na favela. “Os caras, quando vêem um carro desse jeito, acham que é invasão e saem atirando, por via das dúvidas”, relatou. 

Dados da violência na região

A  Polícia Militar está desde domingo nas vias de acesso ao Complexo da Maré. A favela, considerada de posição estratégica pela proximidade com o Aeroporto Internacional Tom Jobim, deverá receber reforço durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho, e durante a Copa das Confederações. Cerca de 45 mil homens da Polícia Militar tiveram as folgas suspensas para suprir a demanda durante os eventos.

Na região do 22º Batalhão da Polícia Militar, que compreende Higienópolis, Ramos, Bonsucesso, Manguinhos, Benfica e Maré, o número de ocorrências aumentou entre janeiro e março. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), houve 162 furtos, 248 roubos e 1075 registros de ocorrências. Em janeiro, foram 979 registros de ocorrências, e em fevereiro foram 1002 registros. O número de homicídios dolosos, por exemplo, diminuiu de oito em janeiro para apenas dois em março. No entanto, o número de lesões dolosas pulou de 85 em janeiro para 132 dois meses depois.

Os crimes de trânsito, no entanto, são os que mais chamam a atenção: em janeiro houve um homicídio culposo, além de 99 lesões corporais culposas. Em fevereiro, foram três mortes, com menos lesões corporais culposas: 87. No mês seguinte, apenas duas mortes, mas com 121 lesões corporais culposas. 

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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