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"Também adorava dançar e nunca mais dancei"

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Mariana Lanza

Direto de São Paulo

Silvia Xavier, 53 anos, perdeu sua única filha mulher, Paula Masseran de Arruda Xavier, 23 anos, no acidente com o Airbus A-320 da TAM, no dia 17 de julho de 2007. A jovem voltava de uma viagem a Gramado com o namorado, Lucas Mattedi, 24 anos.

Silvia Xavier segura cartaz com foto de sua filha Paula
Silvia Xavier segura cartaz com foto de sua filha Paula
Foto: Raphael Falavigna / Terra

"A Paula nunca gostou de fazer nada sozinha. Até para morrer ela foi para o céu com alguém que amava muito. Na hora que vi o acidente pela televisão, senti que ela e o Lucas estavam naquele avião e não conseguia falar outra coisa aos meus outros dois filhos a não ser: 'o que eu faço? o que vou fazer?'. Quando ficou certo que eles embarcaram naquele voo, a sensação não podia ter sido pior. Parece que o mundo acaba, vira a vida da gente. É muito duro. No começo, lembro que andava feito um extraterrestre. Quando estava no meio das pessoas me sentia um ET, porque me achava diferente de todo mundo. Falavam de outros assuntos, já tinham esquecido o acidente e eu tinha aquela dor muito grande. É uma relação muito forte de mãe e filha, um amor muito grande para acabar de repente. Então, quando encontro outros parentes dos nossos 'amados' (forma carinhosa como os familiares lembram das pessoas que morreram no acidente), sinto que todos entendem minha dor. Posso conversar e voltar a falar do assunto depois de dois anos. É uma família tão grande que não falamos da minha filha e do namorado dela, falamos de todos os 199 mortos que aprendemos a conhecer. Vamos à formatura do irmão de uma vítima, viajamos à Argentina e encontramos o pessoal de lá, vamos a Fortaleza. Acabou virando uma grande família que se entende. Alguns amigos tentavam me fazer bem indo a lugares alegres, mas não era a hora. As pessoas querem ajudar, mas luto é luto. Na hora da tragédia, estava cozinhando e nunca mais quis fazer isso, fiquei com pavor. Agora que voltei a tomar gosto para fazer comida. Também adorava dançar e nunca mais dancei. Não consigo chegar a um lugar e levantar os braços, começar a sambar. Sei que vou voltar a fazer isso, mas tem um período. O que não pode é tantas mortes não servirem para nada. E como transformar a morte da minha filha em vida? Ela sempre sendo lembrada, homenageada, preservando os valores que acreditava. A Paula gostava muito de união da família. Ela não está, mas a família tem que continuar. Isso não pode acontecer e acabar a família. A perda tem que ser transformada em alguma coisa. Que cada dia seja valorizado, cada vez que falamos com um filho, todos os momentos. Quando pegamos o telefone e conseguimos falar com o filho, que maravilha! Como eu adoraria conseguir falar com a Paula."

Fonte: Terra
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