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Protestos colocam transporte na agenda política, diz especialista

15 jul 2013 - 21h48
(atualizado às 21h52)
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Um mês depois do início das manifestações que trazem a melhoria do transporte público como uma das principais demandas, o Rio recebe a partir desta segunda-feira a 13ª Conferência Mundial de Pesquisa em Transportes, que reúne mais de 1,5 mil participantes de 90 países em torno do tema. Para o coordenador do evento, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rômulo Orrico, os protestos resultaram na demonstração de uma vontade política que vai além da redução das tarifas.

"Esses 20 centavos têm um caráter simbólico, que representa a busca de algo melhor, um transporte respeitoso, de qualidade. (…) Há alguns anos, o transporte não estava na agenda política principal e essa era a maior tarefa de um dirigente público de transporte. Agora, ele (o setor) entrou. Não apenas como uma compensação, mas porque está sendo olhado como um setor importante. Importante para as famílias, para as cidades, para a economia do País e para o desenvolvimento humano", disse

O evento faz parte das comemorações dos 50 anos do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ. Para o professor Orrico, sediar o congresso é uma conquista para a universidade e reflete a descentralização da produção acadêmica. "É o reconhecimento de que fora dos países centrais há pesquisa própria e crescente no setor de transporte, em especial em mobilidade urbana. Isso significa um olhar diferente sobre o que são os problemas das pessoas", disse Orrico.

Menções aos protestos foram constantes na mesa de abertura e na sessão plenária do evento. O pró-reitor de extensão da universidade, Pablo Benetti, que representou o reitor, pediu sensibilidade aos pesquisadores nas discussões. "Vocês são cientistas, estudam com profundidade os transportes, mas também são pessoas sensíveis. Então, o congresso de vocês, se já era importante, agora ganha uma atualidade, um desafio adicional, que é o de tentar contribuir para dar uma resposta a essa demanda que vem das ruas, a esse descontentamento social do Brasil inteiro."

O subsecretário de Transportes do Estado do Rio, Delmo Pinho, participou da abertura do evento e afirmou que os governos estadual e municipal têm a meta de aumentar para 35% a 40%, em 2016, a fatia de circulações pela cidade em sistemas de transporte de alta e média capacidade, em sistemas organizados. Em 2007, ano em que foi traçada a meta, o percentual era 7%.

Segundo Delmo Pinho, os investimentos desde então e os previstos até 2016 somam R$ 15 bilhões, na modernização de trens, nas barcas, na Linha 4 do metrô e nos corredores de ônibus. "O que importa é o sistema de transporte ser organizadamente implantado e operado. O que importa para o passageiro é o tempo e o custo do deslocamento. Se ele está sendo bem atendido, não importa se é um sistema de média ou de alta capacidade", disse o subsecretário.

Protestos contra tarifas 

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas. 

Agência Brasil Agência Brasil
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