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Protesto em SP: sem-teto deixam hotel invadido por temer confronto

Incêndio provocado por vândalos em uma agência do Banco Itaú, no térreo, levou fumaça até os apartamentos

19 jun 2013 - 11h08
(atualizado às 11h24)
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A jovem Marcela deixa com os filhos e um casal de vizinhos o hotel ocupado após incêndio
A jovem Marcela deixa com os filhos e um casal de vizinhos o hotel ocupado após incêndio
Foto: Fernando Borges / Terra

A manifestação em frente à sede da Prefeitura de São Paulo, no centro da capital paulista, que terminou em vandalismo generalizado, depredação e saques contra diversas lojas, assustou também os atuais moradores do antigo hotel de luxo Othon Palace, ocupado por centenas de famílias sem-teto desde o final do ano passado. Após a maioria dos milhares de manifestantes marcharem pacíficamente à avenida Paulista, parte das centenas de pessoas que "sobraram" no local tentaram invadir o Palácio do Anhangabaú e, sem a presença da Polícia Militar nas ruas, atearam fogo contra uma agência do banco Itaú na Praça do Patriarca, que fica no térreo do edifício de 25 andares, onde vivem as famílias.

As chamas começaram a se espalhar pelo edifício, provocando pânico entre os ocupantes. Desesperados, muitos  deixaram o local carregando seus filhos nos colos e a roupa do corpo. Do lado de fora, o alívio só chegou quando o Corpo de Bombeiros extinguiu as chamas da agência bancária e o início de incêndio que se espalhava para os demais andares do hotel, fundado nos anos 1950. Ninguém se feriu.

"Agarrei meus filhos, peguei o documento, as roupas do bebê e fugi. Onde estava a Polícia para nos ajudar? Aqui mora muita família, muita gente com criança, muito idoso e muitas mulheres grávidas", criticou a Marcela Bezerra do Nascimento, 25 anos, que deixou o local com o marido, Marcelo, e os dois filhos. Segundo ela, a família aguarda há cerca de 9 meses uma vaga em um programa de moradia da administração municipal, onde já se cadastrou.

Mas o princípio de incêndio não era o único motivo de temor das famílias sem-teto. Durante o quebra-quebra em frente à prefeitura, um grupo de pessoas teria tentado invadir o hotel, o que gerou um novo impasse e várias cenas de briga. Munidos de pedaços de pau e barras de ferro, os sem-teto foram para a portaria do edifício defender o espaço invadido desde outubro passado. Havia até uma pessoa com uma foice nas mãos.

"Fomos defender o nosso espaço. Tem muita criança aqui, olha isso", disse o o ajudante de pedreiro Alberto de Lima, 39 anos, que vive com a mulher e os dois filhos no hotel, apontando para as famílias dos vizinhos. "Por pouco não ocorreu uma tragédia no local.

"Hoje a polícia demorou demais para agir. Primeiro foi o incêndio e depois a tentativa de invasão. Minha mulher e meus três filhos escaparam antes, mas eu corri para proteger meu enteado que ainda estava lá dentro", contou Sérgio, 22 anos, que trabalha como vendedor ambulante.

O último susto da noite foi quando, após cerca de três horas de saques e depredações, a Tropa de Choque da PM chegou ao Viaduto do Chá. Assustados com a correria dos vândalos que tentavam escapar, cerca de 20 famílias sem-teto foram até a porta da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), a uma quadra do local, pedir abrigo para proteger as crianças. Uma mulher chegou a desmaiar, mas foi socorrida por um policial. As mulheres que carreavam crianças e grávidas esperaram por cerca de meia hora dentro da secretaria a situação se acalmar, para só então voltar para o "lar" e contabilizar os prejuízos.

"Hoje ninguém vai dormir. Foi assustador o que vivemos hoje", disse Israel (que não quis revelar seu nome), 20 anos, que deixou o local com a mulher, grávida de poucos meses, e o cachorro.

SSP justifica ação

Em nota divulgada no final da noite de terça, a SSP disse que a polícia não interviu na tentativa de invasão ao prédio da prefeitura de São Paulo para não prejudicar a manifestação pacífica.  "A pedido da prefeitura, a PM havia posicionado uma equipe da Força Tática no interior do prédio, mas avaliou que intervir em meio à multidão poderia prejudicar parte da maioria pacífica de manifestantes."

Segundo a secretaria, ainda na mesma nota, "os poucos episódios de depredação registrados na manifestação na noite desta terça feira, no centro de São Paulo, são fatos isolados, provocados por uma pequena minoria”, e serão investigados.

Fonte: Terra
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