Depoimento: "PMs disseram que deviam queimar meu cabelo"
Franciel de Souza, de 22 anos, foi tocar percussão no ato de hoje contra a retirada de direitos trabalhistas e saiu baleado pelas costas
O estudante de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (USP) Franciel de Souza, de 22 anos, saiu de casa nesta sexta-feira muito antes de o dia amanhecer. Enfrentou uma forte chuva quando o relógio ainda nem marcava 6 horas, mas não abriu mão da missão que assumira: seria um dos percussionistas que animaria o protesto de estudantes, servidores e professores da universidade com direito a ‘trancaço’ do portão principal da instituição. O mote da manifestação era o Dia Nacional de Paralisação, que, em todo o País, se queixou da tentativa de recuo em direitos trabalhistas conquistados há décadas.
Souza só deixaria de batucar o instrumento cerca de três horas depois do trancaço, já a 500 metros do portão, quando servidores e outros alunos fecharam o cruzamento da rodovia Raposo Tavares com a rua Sapetuba e geraram ira – em forma de buzinaço – de motoclistas e motoristas em horário de rush. O relógio cravava 8h30.
A reportagem do Terra conversou com o rapaz no final da manhã, já de volta à USP. Franzino, ainda assustado com a ação da Polícia Militar para retirar os manifestantes daquele e de outros cruzamentos, o estudante exibia uma marca de bala de borracha nas costas limpa, de forma grosseira, com uma solução tópica. Já havia trocado a camiseta: estava uma de cor azul escuro, já que a outra, branca, se sujara demais quando foi lançado ao chão por um policial.
“Me pisaram, revistaram minha mochila, ficaram me ameaçando e falando que iam me quebrar – me chamaram de filho da p* e disseram que deviam queimar meu cabelo”. Souza tem o cabelo crespo, volumoso, amarrado ao alto, e, além de bastante magro, é mulato.
Veja, abaixo, o relato em vídeo do estudante ao Terra.
Secretaria e Sintusp se manifestam
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado informou que, "preliminarmente, foram utilizados os meios necessários para que o cruzamento [da Raposo Tavares] não fosse fechado pelos manifestantes". A nota ressalva, porém, que, "no entanto, a conduta posterior dos policiais será objeto de apuração."
Também em nota, o sindicato dos trabalhadores da USP (Sintusp) classificou o protesto como "pacífico". "(...) Decidimos sair em passeata e quando chegamos na rodovia Raposo Tavares, além das tradicionais bombas de gás e tiros de bala de borracha, fomos agredidos com cassetetes, socos e pontapés, sendo que o cúmulo da covardia foi que as mais atacadas foram as mulheres", diz trecho da nota.