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Pernambuco reforça vigilância contra tubarões nas praias

7 set 2013 - 14h40
(atualizado em 8/9/2013 às 07h46)
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<p>Tubar&atilde;o-tigre, uma das esp&eacute;cies que ataca na litoral, tamb&eacute;m &eacute; encontrada na &Aacute;frica do Sul e na Austr&aacute;lia</p>
Tubarão-tigre, uma das espécies que ataca na litoral, também é encontrada na África do Sul e na Austrália
Foto: Getty Images

A temporada de verão em Pernambuco começa antes mesmo da primavera: a abertura foi no sábado, primeiro final de semana em que se espera aumento expressivo de turistas. A expectativa da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) é superar em no mínimo 15% a marca do ano anterior, quando cerca de 1,5 milhão de pessoas visitaram a região, 10% de outros países. É nesse Estado, porém, onde os ataques de tubarões são mais frequentes.

A área de risco se estende por 30 quilômetros, entre Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes. Dos 59 incidentes registrados desde 1992, 24 foram na praia de Boa Viagem, no Recife, e 17 em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.

Ricardo Coelho, promotor do Ministério Público do estado de Pernambuco, chegou a sugerir, entre outros pontos, fechar as praias em que há maior incidência de ataques de tubarões. "Nossa recomendação pediu a interdição dos trechos mais perigosos da praia até que sejam instaladas telas de proteção, porque dos 59 ataques oficiais, talvez 50 tenham ocorrido nos mesmos trechos, já que são trechos onde há uma corrente marítima que puxa o banhista para o fundo", explicou à DW Brasil.

A recomendação não foi adotada, mas o estado tomou algumas providências depois de firmar um acordo com o MP. Considerada a região " mais bem sinalizada do mundo", segundo Rosângela Lessa, presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), o local vai ganhar um reforço. São 84 placas de advertência e educativas espalhadas pela orla onde há risco de ataques.

Nas próximas semanas, serão fixadas outras 23 placas de advertência, além de um novo tipo de sinalização que indique os pontos onde o risco para o banhista é maior: em geral, onde há correntes de retorno, pois podem puxar os banhistas para o fundo. A área de monitoramento por câmeras também será ampliada ao norte, em direção a Olinda, indica o Cemit.

O promotor comenta que também foi sugerido ampliar as ações de educação ambiental, além da colocação de redes de proteção, para formar ilhas de segurança aos banhistas, a exemplo do que já ocorre em Hong Kong, na China, e em praias da Austrália e África do Sul. As telas submersas serviriam como escudos para evitar a aproximação dos tubarões. Uma empresa pernambucana já desenvolveu a tecnologia e foi definido o tipo de malha a ser usado nas praias, conforme o Cemit. A instalação depende agora de um processo licitatório, que ainda não tem data para ocorrer.

Barreiras para evitar acidentes

Apesar de não descartar a recomendação do MP, Rodângela destaca que o uso de malhas se mostrou menos eficaz do que o método usado no Estado hoje. Barcos colocam uma espécie de corda, com vários anzóis com cerca de um metro e meio de profundidade cada - e capturam os tubarões ao longo da costa. Depois de marcados e de receberem sensores, os animais são levados a uma área segura, cerca de 20 milhas da costa, quando passam a ser monitorados via satélite. "Os outros países estão abandonando o uso de malhas por se mostrarem pouco eficientes. Muitos pretendem adotar o nosso método, que é de baixo custo e mais eficaz", comenta Rosângela.

De acordo com a presidente do Cemit, as duas espécies responsáveis pela maioria dos 59 ataques no Nordeste brasileiro também ocorrem na África do Sul: o tubarão-tigre e o cabeça-chata. Naquele país, desde 1981 é usado o sistema de malhas para proteger os banhistas. Lá, foram capturados 2,8 mil tubarões em 32 anos, uma média de 87,5 tubarões por ano. No Brasil, desde que o projeto começou, há nove anos, foram capturados no total 74 exemplares das duas espécies, ou seja, uma média de 8,2 por ano.

André Samico de Melo Correia, presidente da Empetur, explica que os ataques de tubarões não chegam a comprometer o turismo do Estado. Ele salienta que as medidas de segurança adotadas reduziram significativamente os incidentes – estima-se 90% desde 2004. "Se você fosse proibir a entrada nas praias por causa do tubarão, você antes teria que proibir o banho de mar, porque morre muito mais gente afogada do que em ataque de tubarão", analisa. Por ano, são registrados em média 120 afogamentos.

Apesar disso, a falta de preocupação de alguns banhistas pode colocar suas vidas em risco. "Muitos não acreditam que é verdade e não respeitam as orientações", enfatiza Rosângela. Além das 84 placas já instaladas pela orla, salva-vidas e materiais educativos também alertam para o problema, indica o Cemit.

Impactos ambientais

Os ataques passaram a ter mais frequência a partir de 1992, alguns anos após o início das operações de um complexo industrial e petroquímico na região. De acordo com o coordenador do Cemit, Fábio Hazin, a obra que conta com refinarias de petróleo, um porto e cerca de 250 empresas, trouxe sérios impactos ambientais, pois modificou a dinâmica marinha. Foram feitos desvios de curso de canais de água, bloqueios de rios e implosões de recifes de corais. "A mudança física, se entende, como tendo eliminado a barreira de salinidade. Esta mudança de perfil faz com que os tubarões cheguem com mais facilidade às praias urbanas", explica Rosângela.

Em busca de comida, muitos tubarões seguem os navios em direção ao Porto de Suape, se aproximando das praias. "Uma série de outros fatores ambientais, tais como a poluição urbana, a água turva, e a presença de um canal profundo junto às praias de Recife, atuam em conjunto para aumentar a probabilidade de os tubarões se aproximarem dos humanos e os confundirem com uma das suas presas habituais", complementa Hazin.

Muitos ataques acontecem próximo destes canais. Alguns deles ficam a apenas 300 metros das praias. Por isso, a prática de surfe é proibida e os banhistas são orientados a não nadarem em áreas profundas. A distância segura, segundo o Cemit, é no umbigo. Depois disso, o risco aumenta, por causa das correntes de retorno que podem puxar os banhistas para o fundo os deixando mais vulneráveis aos ataques.

Por causa desta situação, o MP estuda ingressar com ações civis públicas contra os administradores do complexo portuário. Conforme Coelho, em uma das ações é solicitado R$ 250 milhões de indenização para reparar parte dos danos causados. O dinheiro deveria ser investido pelo Estado em medidas de educação, pesquisa e segurança. Os processos ainda não foram julgados.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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