Para analistas, ocupações irregulares podem causar mais tragédias
Apesar das medidas anunciadas pela prefeitura do Rio de Janeiro para preparar a cidade para as chuvas, especialistas ouvidos pela BBC Brasil dizem que tragédias continuarão ocorrendo enquanto houver ocupação irregular de encostas e faltar planejamento urbano.
Segundo o prefeito Eduardo Paes, R$ 250 milhões foram investidos desde as fortes chuvas de abril do ano passado para corrigir os estragos e prevenir novos deslizamentos e enchentes.
A Secretaria Municipal de Obras vem realizando obras de contenção de encostas e correção de pontos crônicos de alagamento, e começou a operar em dezembro um radar meteorológico comprado para a cidade, instalado no morro do Sumaré.
As ações da prefeitura também incluem o recém inaugurado Centro de Operações Rio, um centro integrado para responder a emergências, e o desenvolvimento, em parceria com a IBM, de um novo sistema de previsão meteorológica - capaz de prever a chegada de grandes chuvas com 48 horas de antecedência, mas que só ficará pronto a partir de maio.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil saúdam as iniciativas, mas cobram outras ações por parte da prefeitura.
"É urgente que a cidade tenha planejamento urbano. As coisas não podem mais correr soltas como estão correndo. É preciso separar as áreas onde se pode construir e as áreas onde não se pode", diz Maurício Ehrlich, professor do Laboratório de Geotecnia da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"A ocupação desordenada é a principal causa de fatalidades", afirma Alberto Sayão, professor de engenharia civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio). "Acho que ainda vamos ver muitas tragédias. Retirar as pessoas de áreas de risco deveria ser prioridade zero."
Habitação
De acordo com o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, a prefeitura vem procurando controlar o crescimento irregular das favelas com chamado programa Morar Carioca - que envolve a urbanização e a delimitação das áreas das comunidades.
"Servidores da prefeitura dão assistência técnica para construções e fiscalizam o crescimento da comunidade", diz Bittar. "Além disso, monitoramos com fotos aéreas de grande precisão e estamos adotando uma pronta ação. Identificada uma construção em área de risco ou preservação, será prontamente removida antes de sua conclusão".
De acordo com Bittar, a secretaria vai promover o reassentamento gradual de famílias que moram em áreas impróprias, como encostas, beiras de rio e áreas de preservação ambiental.
Segundo um estudo da Geo-Rio divulgado nesta quinta-feira, há 18 mil residências em áreas de alto risco em 117 comunidades da cidade.
Emergências
De acordo com o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório, o Centro de Operações Rio é a principal inovação da prefeitura para se preparar para reagir em caso de chuvas fortes.
Inaugurado no último dia 31, o centro reúne representantes e informações de todos os órgãos e concessionárias do município.
"É uma grande plataforma onde têm assento todos os atores que decidem o dia a dia da cidade, fazendo com que o Rio possa responder com rapidez e eficiência a qualquer tipo de incidente", diz Osório.
O centro foi formulado pela IBM, que também está desenvolvendo desde novembro o sistema de Previsão de Meteorologia de Alta Resolução (PMAR) para a prefeitura.
De acordo com Pedro Almeida, diretor do programa Cidades Inteligentes da IBM Brasil, o PMAR poderá prever chuvas fortes com até 48 horas de antecedência e informar onde a precipitação será maior. Ele deve entrar operação entre maio e junho.
"Como todo sistema, vai precisar de uma fase de ajustes e estará operacional para a próxima temporada de chuvas fortes. Mas a cidade está mais bem preparada para as chuvas desde já, porque com o centro poderá reagir rapidamente a uma crise", diz.
Limitações
Moacyr Duarte, pesquisador do Grupo de Análise de Risco Tecnológico e Ambiental da Coppe/ UFRJ, diz que a iniciativa é "louvável", mas considera que o centro vai precisar de um tempo até estar funcionando bem.
"A criação de um centro de emergências numa metrópole da dimensão do Rio é muito importante. Favorece a integração para responder não só às chuvas como também em grandes eventos, como a Copa e a Olimpíada", diz.
Porém, para Duarte, os órgãos ainda precisam aprender a usar a ferramenta para torná-la realmente eficiente. Ele acredita que o início da atividade vá apontar para as limitações de cada setor representado, e o primeiro passo será remediar essas limitações.
"Só então é que o centro vai se tornar operacional tal como foi vislumbrado", diz.
"Até agora não estão previstas chuvas com a intensidade do ano passado. Se o centro estivesse recém inaugurado e acontecesse algo como o Morro do Bumba, eles iam levar um baile. Mas, a julgar pelas previsões, eles vão ter tempo hábil para se adaptar", diz.