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Para analistas, ocupações irregulares podem causar mais tragédias

6 jan 2011 - 17h40
(atualizado às 18h13)
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Apesar das medidas anunciadas pela prefeitura do Rio de Janeiro para preparar a cidade para as chuvas, especialistas ouvidos pela BBC Brasil dizem que tragédias continuarão ocorrendo enquanto houver ocupação irregular de encostas e faltar planejamento urbano.

Segundo o prefeito Eduardo Paes, R$ 250 milhões foram investidos desde as fortes chuvas de abril do ano passado para corrigir os estragos e prevenir novos deslizamentos e enchentes.

A Secretaria Municipal de Obras vem realizando obras de contenção de encostas e correção de pontos crônicos de alagamento, e começou a operar em dezembro um radar meteorológico comprado para a cidade, instalado no morro do Sumaré.

As ações da prefeitura também incluem o recém inaugurado Centro de Operações Rio, um centro integrado para responder a emergências, e o desenvolvimento, em parceria com a IBM, de um novo sistema de previsão meteorológica - capaz de prever a chegada de grandes chuvas com 48 horas de antecedência, mas que só ficará pronto a partir de maio.

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil saúdam as iniciativas, mas cobram outras ações por parte da prefeitura.

"É urgente que a cidade tenha planejamento urbano. As coisas não podem mais correr soltas como estão correndo. É preciso separar as áreas onde se pode construir e as áreas onde não se pode", diz Maurício Ehrlich, professor do Laboratório de Geotecnia da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"A ocupação desordenada é a principal causa de fatalidades", afirma Alberto Sayão, professor de engenharia civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio). "Acho que ainda vamos ver muitas tragédias. Retirar as pessoas de áreas de risco deveria ser prioridade zero."

Habitação

De acordo com o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, a prefeitura vem procurando controlar o crescimento irregular das favelas com chamado programa Morar Carioca - que envolve a urbanização e a delimitação das áreas das comunidades.

"Servidores da prefeitura dão assistência técnica para construções e fiscalizam o crescimento da comunidade", diz Bittar. "Além disso, monitoramos com fotos aéreas de grande precisão e estamos adotando uma pronta ação. Identificada uma construção em área de risco ou preservação, será prontamente removida antes de sua conclusão".

De acordo com Bittar, a secretaria vai promover o reassentamento gradual de famílias que moram em áreas impróprias, como encostas, beiras de rio e áreas de preservação ambiental.

Segundo um estudo da Geo-Rio divulgado nesta quinta-feira, há 18 mil residências em áreas de alto risco em 117 comunidades da cidade.

Emergências

De acordo com o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório, o Centro de Operações Rio é a principal inovação da prefeitura para se preparar para reagir em caso de chuvas fortes.

Inaugurado no último dia 31, o centro reúne representantes e informações de todos os órgãos e concessionárias do município.

"É uma grande plataforma onde têm assento todos os atores que decidem o dia a dia da cidade, fazendo com que o Rio possa responder com rapidez e eficiência a qualquer tipo de incidente", diz Osório.

O centro foi formulado pela IBM, que também está desenvolvendo desde novembro o sistema de Previsão de Meteorologia de Alta Resolução (PMAR) para a prefeitura.

De acordo com Pedro Almeida, diretor do programa Cidades Inteligentes da IBM Brasil, o PMAR poderá prever chuvas fortes com até 48 horas de antecedência e informar onde a precipitação será maior. Ele deve entrar operação entre maio e junho.

"Como todo sistema, vai precisar de uma fase de ajustes e estará operacional para a próxima temporada de chuvas fortes. Mas a cidade está mais bem preparada para as chuvas desde já, porque com o centro poderá reagir rapidamente a uma crise", diz.

Limitações

Moacyr Duarte, pesquisador do Grupo de Análise de Risco Tecnológico e Ambiental da Coppe/ UFRJ, diz que a iniciativa é "louvável", mas considera que o centro vai precisar de um tempo até estar funcionando bem.

"A criação de um centro de emergências numa metrópole da dimensão do Rio é muito importante. Favorece a integração para responder não só às chuvas como também em grandes eventos, como a Copa e a Olimpíada", diz.

Porém, para Duarte, os órgãos ainda precisam aprender a usar a ferramenta para torná-la realmente eficiente. Ele acredita que o início da atividade vá apontar para as limitações de cada setor representado, e o primeiro passo será remediar essas limitações.

"Só então é que o centro vai se tornar operacional tal como foi vislumbrado", diz.

"Até agora não estão previstas chuvas com a intensidade do ano passado. Se o centro estivesse recém inaugurado e acontecesse algo como o Morro do Bumba, eles iam levar um baile. Mas, a julgar pelas previsões, eles vão ter tempo hábil para se adaptar", diz.

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