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Médicos são investigados por deixar expediente em hospital

Funcionários teriam fraudado o sistema de ponto no Hospital Estadual de Mirandópolis para realizar atividades particulares quando deveriam estar atendendo pacientes

18 dez 2014 - 17h20
(atualizado às 18h13)
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Médicos do Hospital Estadual de Mirandópolis, no interior de São Paulo, são investigados pelo Ministério Público Estadual por fraudar o sistema de ponto e deixar o hospital durante o expediente para fazer tarefas particulares. Os médicos deixam o hospital para atender em seus consultórios particulares, jantar ou almoçar, buscar filhos na escola, ir à missa ou mesmo praticar atividades de lazer.

Segundo o promotor de Justiça Carlos Alberto Pereira Leitão Júnior, autor de inquérito civil que apura a conduta dos médicos, “a situação é gravíssima”. Enquanto os médicos estão fora, as filas de atendimento aumentam no hospital, provocando denúncias de ausência de médicos, que chegam à promotoria. Em uma delas, uma paciente morreu porque o único cirurgião, que deveria estar de plantão no hospital, tinha deixado o posto para viajar e fazer uma cirurgia de apêndice na cidade de Birigui, distante a cerca de 100 quilômetros de Mirandópolis.

Avisado pelo telefone, o médico não quis retornar, optando por fazer a cirurgia de apêndice. Sem médico para atendê-la, Cristina Pereira de Souza, vítima de acidente moto, que estava com hemorragia, não resistiu. O caso está sendo apurado em um inquérito criminal. “A vítima era irmã de uma enfermeira, talvez por isso o caso tenha chegado até nós, mas deve haver muitos que não chegam”, diz o promotor.

Não é o único caso de morte no hospital. No dia 9 de dezembro, um médico do hospital foi condenado à prisão por omitir socorro a um paciente que estava agonizando em seu plantão.

O próprio promotor já flagrou pessoalmente a ausência de médicos. Em três oportunidades que esteve de surpresa no hospital, ele mesmo constatou a ausência dos médicos. “Embora estivessem com a presença confirmada no sistema de ponto, eles não estavam no hospital”, afirmou o promotor. “O mais revoltante é que a diretoria tem conhecimento das fraudes, já foi alertada por esta promotoria, mas não puniu qualquer médico. Só agora, com a abertura do inquérito criminal pela morte de Cristina é que a diretoria decidiu instalar sindicâncias”, diz.

Segundo Leitão Júnior, os médicos burlam o sistema de biometria e o livro de ponto que existem para controlar a frequência dos profissionais. De acordo com o promotor, um número considerável dos 60 médicos do hospital frauda o ponto para deixar o expediente e sair para desempenhar atividades particulares. A investigação também vai apurar as responsabilidades da direção do hospital. Se denunciados, os suspeitos podem ser condenados por improbidade administrativa e falsidade ideológica.

O Hospital Estadual de Mirandópolis divulgou nota na qual afirma que está colaborando do Ministério Público nas investigações e que abriu sindicância interna para apurar as denúncias investigadas pelo MP. "Caso elas sejam comprovadas, os responsáveis serão penalizados conforme a legislação vigente, podendo, inclusive, serem dispensados a bem do serviço público", diz a nota, concluindo que o caso também será encaminhado ao Conselho Regional de Medicina, para que sejam aplicadas as sanções profissionais cabíveis. Confira a íntegra da nota:

"O Hospital Estadual de Mirandópolis está colaborando com o MP e disponibilizando todas as informações necessárias para apuração de eventuais irregularidades das quais pode ter sido vítima. A unidade abriu sindicância interna para apurar as denúncias investigadas pelo Ministério Público. Caso elas sejam comprovadas, os responsáveis serão penalizados conforme a legislação vigente, podendo, inclusive, serem dispensados a bem do serviço público. O caso também será encaminhado ao Conselho Regional de Medicina, a quem cabe aplicar as sanções profissionais cabíveis." 

Fonte: Especial para Terra
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