PUBLICIDADE

Cidades

Graças a poesia, ex-interno consegue emprego e casa nova

Primeiro jovem da Fundação Casa a vencer uma Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa recebe cerca de R$ 1 mil por mês e aconselha os que continuam internados na instituição: “existe hora certa para tudo”

12 mar 2015 - 09h58
(atualizado às 10h00)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Garoto venceu competição com a poesia "Vida em Transição"</p>
Garoto venceu competição com a poesia "Vida em Transição"
Foto: Elisa Feres / Terra

A nova casa do operador de telemarketing João*, de 17 anos, está sendo montada aos poucos. Ainda falta comprar alguns móveis, eletrodomésticos e utensílios, mas o básico, como fogão, geladeira e camas, já foi adquirido. Assim como o objeto principal da decoração da sala de entrada: a medalha de campeão da Olimpíada Nacional de Língua Portuguesa que ele conquistou no ano passado, quando cumpria medida socioeducativa na Fundação Casa, em São Paulo. 

"Está um pouco corrido. Estou de mudança hoje, mas podemos conversar", disse o garoto ao atender ligação do Terra. Ele está prestes a deixar a casa da mãe, em Sapopemba, zona leste de São Paulo, para morar com os dois filhos e a esposa, também menor de idade, no bairro Jardim Eliane, localizado na mesma região. O espaço tem dois cômodos e foi presente de um amigo, padrinho das crianças, que se solidarizou com sua história. 

João – que havia sido entrevistado pela reportagem em dezembro, quando ainda estava na instituição – deixou a internação no dia 31 de janeiro. Em pouco tempo, surpreendentemente conseguiu o que mais queria: um emprego com carteira assinada para afastar, de vez, o “fantasma” do tráfico. “Consegui esse trabalho através da minha cunhada, irmã da minha esposa. Ela me indicou. Fiquei feliz, porque no primeiro emprego que procurei já me abriram as portas. Acho que o fato de eu ter vencido a olimpíada contribuiu. Quando falei que tinha ganhado, os chefes ficaram surpresos”, contou, orgulhoso.

Atualmente, o jovem acorda por volta das 5h, pega ônibus até a empresa e trabalha das 6h às 14h. À tarde, fica com a esposa cuidando da casa e, em seguida, busca os filhos na creche. Nos próximos dias, no entanto, sua rotina terá mais uma atribuição. Assim que finalizar os procedimentos burocráticos (como providenciar documentos e histórico escolar), ele voltará a estudar no 1° ano do ensino médio. As aulas serão no período noturno, das 19h às 23h.

<p>Dia a dia da Fundação Casa foi o tema de seu texto</p>
Dia a dia da Fundação Casa foi o tema de seu texto
Foto: Elisa Feres / Terra

“Vai ficar cansativo, mas tudo bem, a gente supera. Estou recomeçando do zero. Por enquanto, pretendo continuar nesse emprego. Ganho cerca de R$ 1 mil por mês (incluindo benefícios). Consigo sustentar minha família. Mas, futuramente, quando abrir uma oportunidade, quero conquistar um melhor e tentar entrar em uma faculdade”, disse.

Questionado se teria algum conselho para dar aos outros meninos que continuam na fundação, não pensou duas vezes. “Eu diria para não desistirem nunca. E para saberem que existe hora certa para tudo. A fundação me ajudou muito nisso, pode ajudar eles também”.

A saída da internação não fez com que João abandonasse o hábito de escrever. Sempre que tem tempo livre, ele disse que gosta de sentar com um caderno  na mão ou em frente ao notebook que ganhou como prêmio na competição de literatura e rascunhar alguns versos. E o tema de sua poesia, que antes era basicamente o cotidiano na fundação, passou a ser a recém-descoberta vida que pode existir fora dela. 

*João é um nome fictício usado para preservar a identidade do jovem

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade