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Governo chama líderes para última negociação na Aldeia Maracanã

'Eles dizem que vão dar a vida', afirma o defensor dos indígenas, Daniel Macedo

21 mar 2013 - 13h22
(atualizado às 14h15)
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A secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos faz uma última tentativa de negociação com as lideranças das 20 etnias
A secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos faz uma última tentativa de negociação com as lideranças das 20 etnias
Foto: Daniel Fernandes / Terra

O clima de tensão permanece na Aldeia Maracanã, no terreno onde funcionou o antigo Museu do Índio, ao lado do estádio que sediará as finais da Copa das Confederações, em junho, e da Copa do Mundo de 2014. Com a imissão de posse expedida pela Justiça a favor do Estado do Rio de Janeiro para a retirada dos índios que ocupam o local desde 2006, a secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos faz uma última tentativa de negociação com as lideranças das 20 etnias para evitar o confronto cada vez mais iminente para a desocupação. No começo da tarde, eles aceitaram conversar com o Estado.

A informação é da Defensoria Pública do Rio, que esteve nesta manhã na Aldeia Maracanã trazendo a proposta para os índios de que o Estado quer esta tentativa de diálogo, antes de que a ordem judicial seja cumprida pela Tropa de Choque e pela Polícia Militar. "Isso demonstra que o Estado recuou e quer negociar", afirmou o defensor público da causa, Daniel Macedo. Desde a 0h desta quinta-feira, quando venceu o prazo de três dias para que os indígenas deixem o terreno, o governo do Rio já poderia usufruir de seu mandado de reintegração de posse.

No entanto, nenhum oficial de Justiça compareceu ainda junto das forças de segurança para cumprir a imissão de posse. "Se morrer um índio aqui dentro, isso vai repercutir muito mal numa cidade que vai receber tantos eventos internacionais, vai pegar muito mal lá fora", completou o defensor. Hoje, os cerca de 30 índios que estão no prédio abandonado se reúnem para decidir se vão até a reunião proposta pela secretaria de Assistência Social ou se abrem mão do convite e mantêm o propósito de não deixarem a aldeia. “Me preocupa muito o confronto, alguns índios me disseram que estão dispostos a dar até a vida”, disse Macedo. 

O Estado chegou a oferecer aluguel social e 33 quartos de um hotel para moradores de rua, que devem ser desocupados pela manhã, aos indígenas, que prontamente recusaram. Eles insistem no propósito da criação de um centro de referência da cultura indígena na Quinta da Boa Vista, próximo ao Maracanã, mas o Estado, por mais que tenha acenado com esta alternativa, ainda não trouxe pontos claros. Por exemplo: as dimensões deste terreno, a exata localidade e o prazo para a construção do centro. 

Resistência 

O portão de acesso ao terreno está tomado por uma barricada de arames e pedaços grandes de madeira. A única forma de acesso ao prédio é por meio de um muro na lateral, com uma escada colocada estrategicamente. Não são todos os profissionais da imprensa, porém, que são autorizados a pular para dentro da aldeia. Alguns veículos considerados tendenciosos pelos ocupantes são barrados. É necessária a apresentação de um crachá funcional para que o órgão seja liberado para o ingresso. 

Arão da Providência, advogado e indígena, é um dos poucos líderes que estão desde o início da batalha judicial contra o Estado. Na última quarta-feira, em entrevista ao Terra, com o documento de imissão da ordem de posse expedido pela 8ª Vara Federal (juiz Renato Cezar Pessanha) embaixo do braço, ele diz esperar “que ninguém use da força” e afirma ainda que “queremos trabalhar com o Estado”. 

“Falta diálogo, eles não podem retirar a gente daqui sem oferecer uma alternativa imediata, a própria imissão de posse da Justiça trata disso”, explicou. Além dos indígenas, foram vistos cerca quatro integrantes do movimento punk que, por mais que não queiram contato com a imprensa, estão dentro do movimento, como confirma o próprio advogado. 

"Eles estão com a gente, eles sabem o que é se sentir discriminado. Estão no apoiando, assim como estudantes, ambientalistas, sindicalistas e outros defensores dos direitos humanos", resumiu Arão da Providência. Ativistas do movimento Femen do Brasil também estiveram no local na manhã desta quarta-feira. 

Histórico

Em abril de 1953, o Museu do Índio foi inaugurado no atual espaço e funcionou, recebendo cerca de 3 mil visitas diárias, e com um acervo de mais de 15 mil livros sobre a cultura indígena, até 1977. Neste ano, a instituição foi transferida para um prédio em Botafogo. A alegação era de que, no local, seria construída uma estação do Metrô. Desde então, alguns projetos foram alinhados para a utilização do espaço, como o ministério da Cultura, que pensou em transferir para o local alguns dos seus funcionários que trabalhavam no centro, e até a Prefeitura esboçou uma frente de trabalhos para revitalização do prédio. 

Nada, porém, saiu do papel e, abandonado, o terreno onde hoje funciona a Aldeia Maracanã foi ocupado em 2006 pelos índios. Um ano depois, o Brasil foi escolhido o país sede da Copa do Mundo de 2014 e, então, de forma progressiva, ano a ano, passou-se a discutir as intervenções do entorno - uma vez que o Maracanã, desde o ínicio, era especulado como estádio que receberia os jogos finais do Mundial da Fifa e da Copa das Confederações. 

Fonte: Terra
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