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Advogado: uso precipitado de máquinas pode ter esmagado vítimas

2 fev 2012 - 15h43
(atualizado às 22h13)
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O advogado da família de uma das vítimas do desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro, na semana passada, estuda processar os responsáveis pelo resgate por homicídio culposo. Segundo João Tancredo, que presta assessoria jurídica para a família de Sabrina Prado, o uso de máquinas pesadas na remoção dos destroços e a pressa para liberar o trânsito na região podem ter esmagado as vítimas ainda vivas sob os escombros.

Máquinas e escavadeiras teriam sido usadas muito cedo, segundo defesa da família de uma das vítimas
Máquinas e escavadeiras teriam sido usadas muito cedo, segundo defesa da família de uma das vítimas
Foto: AP

Conheça as vítimas dos desabamentos no centro do Rio

Por dentro dos prédios que desabaram

Lembre desabamentos que chocaram o Brasil

"Precisamos estudar isso com cuidado, mas ficou nítido que houve pressa para mostrar serviço e liberar as ruas do centro ao invés do trabalho de resgate. Se ficar constatado que as vítimas poderiam estar vivas quando eles começaram a usar máquinas pesadas, acionaremos judicialmente o responsável pelo resgate. Ele pode responder por homicídio culposo", disse o advogado.

Procurada pela reportagem do Jornal do Brasil, a Secretaria Estadual de Defesa Civil informou que a ordem de usar máquinas pesadas no resgate partiu do Comando-Geral do Corpo de Bombeiros e ressaltou que a operação seguiu critérios técnicos para salvar possíveis sobreviventes.

Episódios recentes nos quais pessoas foram resgatadas com vida em situações semelhantes pesam contra a decisão do Corpo de Bombeiros. No terremoto do Haiti, equipes de resgate encontraram vítimas sob escombros 11 dias após a tragédia. Em alguns prédios japoneses atingidos pelo terremoto no ano passado, pessoas foram encontradas com vida sob os escombros nove dias depois.

No World Trade Center, cujas proporções da queda reduziam drasticamente a chance de sobreviventes, a última pessoa resgatada com vida foi encontrada 28 horas após o desabamento das torres. No centro do Rio, as equipes começaram a usar máquinas pesadas cerca de 12 horas após a tragédia.

O órgão norte-americano FEMA (sigla para Agência Federal de Gestão de Emergências, em inglês) recomenda, por exemplo, que o uso de maquinário pesado em situações semelhantes aconteça apenas quando a vida das equipes de resgate estiver em risco. Especialista em resgate com gerenciamento de catástrofes, o médico Marcelo Teixeira apontou que as vítimas poderiam ficar dias com vida debaixo dos escombros.

Os desabamentos

Três prédios desabaram no centro do Rio de Janeiro por volta das 20h30min de 25 de janeiro. Um deles tinha 20 andares e ficava situado na avenida Treze de Maio; outro tinha 10 andares e ficava na rua Manuel de Carvalho; e o terceiro, também na Manuel de Carvalho, era uma construção de quatro andares. Segundo a Defesa Civil do município, pelo menos 17 pessoas morreram. Cinco pessoas ficaram feridas com escoriações leves e foram atendidas nos hospitais da região. Cerca de 80 bombeiros e agentes da Defesa Civil trabalham desde a noite da tragédia na busca de vítimas em meio aos escombros. Estão sendo usados retroescavadeiras e caminhões para retirar os entulhos.

Segundo o engenheiro civil Antônio Eulálio, do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), havia obras irregulares no edifício de 20 andares. O especialista afirmou que o prédio teria caído de cima para abaixo e acabou levando os outros dois ao lado. De acordo com ele, todas as possibilidades para a tragédia apontam para problemas estruturais nesse prédio. Ele descartou totalmente que uma explosão por vazamento de gás tenha causado o desabamento.

Com o acidente, a prefeitura do Rio de Janeiro interditou várias ruas da região. O governo do Estado decretou luto. No metrô, as estações Cinelândia, Carioca, Uruguaiana e Presidente Vargas foram interditadas na noite dos desabamentos, mas foram liberadas após inspeção e funcionam normalmente.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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