Com memes, população critica obras da Copa em Cuiabá
Habitantes da capital matogrossense publicaram montagens em redes sociais ironizando o estado das construções feitas para o Mundial
A interdição da segunda grande obra de mobilidade urbana realizada para a Copa do Mundo em Cuiabá (MT) gerou insegurança entre motoristas que passam pelas estruturas em risco. Esse medo tem se refletido nas redes sociais.
Memes estão sendo espalhados via Facebook e Twitter para denunciar, com humor, uma situação já temida mesmo antes mesmo do Mundial, que terminou em julho.
O viaduto Jamil Boutros Nadaf, conhecido como Viaduto da Sefaz, inaugurado há seis meses, foi o primeiro empreendimento a ser interditado. Dia 6 de agosto, a própria empresa responsável pela obra, o Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande, decidiu fechá-lo, para não colocar a população em risco. Por 4 meses, a empresa promete corrigir de fissuras nas juntas de dilatação que inicialmente teriam sido consideradas inofensivas.
O trancamento da via voltou a gerar congestionamentos em uma região por onde transitam cerca de 100 mil servidores que trabalham no Centro Político Administrativo (CPA) dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
A servidora pública do Estado Valéria Nogueira, 40 anos, faz esse percurso. “Passo próximo ao viaduto e sempre me pergunto: quem é ou quem foi o fiscal de contratos destas obras?”, questiona. “Acredito que se há uso indevido de dinheiro público o caso tem que ser devidamente investigado”, cobra.
Na região, localizam-se também um shopping, supermercado e prédios residenciais e comerciais.
A obra custou R$ 18 milhões. Em nota pública, a empresa assegurou que arcará com os prejuízos. Há especulações de que implodir tudo e iniciá-la do zero ficaria mais barato do que uma reforma.
Um dos memes compara o viaduto da Sefaz à pista de brinquedo da Hot Wheels e ironiza a irresponsabilidade do poder público com a população.
Outro meme traz o elenco do filme "A montanha enfeitiçada", estrelado pelo ator Dwayne Johnson. No momento de uma perseguição, o personagem, que já viu de tudo na vida, olha para o banco de traz, onde está uma menina loirinha, a atriz Anna Sophia Robb, e diz que em direção ao CPA não vai de jeito nenhum.
O Ministério Público Estadual (MPE) acompanha o andamento dos trabalhos no viaduto da Sefaz, que levou popularmente esse nome porque fica próximo à Secretaria de Estado de Fazenda.
Agora o MPE exigiu a paralisação das obras da trincheira do bairro Santa Rosa, que fica no caminho entre um hotel de luxo, que acomodou a equipe da Fifa na cidade, e a Arena Pantanal. A trincheira, que está sendo construída pela empresa Camargo Campos S.A. Engenharia e Comércio, ainda não está pronta, mesmo mais de um mês após a Copa. Antes dos jogos, já havia apresentado problemas o que levou o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT) a pedir o projeto original à Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa). Como isso não foi possível, o Crea solicitou o projeto via judicial. A obra foi orçada em R$ 23,3 milhões.
O vendedor Anderson Canavarros, 35 anos, não vê a hora da trincheira do Santa Rosa ser liberada. “Abriram em meia pista. Está congestionando em horário de pico e ainda há risco de perigo para a gente. O que a gente não pode é ficar pagando para sempre por esse tumulto que as obras da Copa causaram.”
Mediante as duas interdições, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT) solicitou os laudos técnicos periciais em um prazo de 48 horas para a Secopa, sob pena de multa diária de R$ 59 mil, isso caso o laudo já exista. Se não, o prazo é de 15 dias para contratação de empresa especializada nisso e 30 para entrega do documento. A medida cautelar é do conselheiro Antonio Joaquim.
Nela ele destaca que “objetiva tranquilizar a população quanto à situação e ao futuro das obras contratadas com recursos públicos". O conselheiro também observou que é evidente a insegurança dos cidadãos que passam por obras com suspeita de risco de desabamento conforme noticiário da imprensa. Alegou ainda que a Secopa não vem oferecendo informações consistentes acerca dos fatos divulgados, o que contribui para a proliferação de teorias e boatos sobre a insegurança das obras executadas nas duas cidades.
As duas obras interditadas juntas custaram R$ 41 milhões, de acordo com o orçamento previsto em licitação. Ao todo, das 56 obras previstas para melhorar o trânsito na cidade, só 14 foram entregues antes dos jogos. Algumas delas, começaram a ser utilizadas parcialmente.