PUBLICIDADE

Canceladas 60 festas clandestinas após morte de estudante

De acordo com o MP, festas organizadas por repúblicas são eventos que não cumprem legislação

3 mar 2015 - 20h02
(atualizado às 20h14)
Compartilhar
Exibir comentários
Humberto morreu após o consumo excessivo de bebida alcooólica
Humberto morreu após o consumo excessivo de bebida alcooólica
Foto: Facebook / Reprodução

A realização de eventos classificados como “universitários”, mas considerados clandestinos, ou seja, sem o cumprimento das exigências legais, estão na mira do Ministério Público em Bauru, interior de São Paulo. As investigações começaram em novembro de 2014 e ganharam força depois que um jovem de 23 anos morreu, após ingerir cerca de 30 doses de vodca em uma festa organizada por repúblicas de estudantes, no último sábado, e que não tinha alvará. Humberto Moura Fonseca cursava engenharia elétrica na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Além do inquérito penal instaurado pela Polícia Civil, um inquérito civil foi aberto pelo MP para investigar a responsabilidade civil dos organizadores da festa batizada de “Inter Reps”, em relação aos danos causados aos participantes. Três promotorias se uniram na apuração: Defesa dos Direitos Do Consumidor, Infância e Juventude, e Habitação e Urbanismo. Os promotores têm conhecimento de 60 eventos similares que estavam sendo organizados na região de Bauru e foram cancelados após o ocorrido.

“Essas festas foram canceladas não por consideração, mas por medo das ações do poder público que serão tomadas se elas efetivamente acontecerem”, diz o promotor Luís Gabos Álvares, curador de Habitação e Urbanismo.

Ele explica que desde o episódio da boate Kiss, em 2013 – onde 242 pessoas morreram em um incêndio - as casas noturnas de Bauru passaram a ser investigadas no que diz respeito a segurança e documentação exigida para funcionamento. Quatro chegaram a ser interditadas. Com isso, segundo ele, criou-se uma nova modalidade para eventos na cidade.

“É como o sertanejo universitário. Nem todo cantor sertanejo faz faculdade. É um novo comércio, ilegal, clandestino, regado a drogas. O tráfico de drogas está envolvido nisso, principalmente de drogas sintéticas. Essas repúblicas não são repúblicas. Elas viraram ‘grifes’, são verdadeiras empresas. É a nova forma clandestina para realização de eventos”, explica. A maior parte do público atraído pelos eventos tem idade entre 18 e 25 anos.

“Festa é quando as pessoas se reúnem com os amigos para confraternizar, fazem um churrasco no final de semana. Esses eventos são pagos e os ingressos chegam a custar R$ 50 para se ter bebida à vontade. Sem condições mínimas de segurança. Tenta-se omitir que é um comércio chamando de festa, mas não tem regulamentação nenhuma”, justifica.

Ele revela que os organizadores, que na maioria dos casos não são estudantes universitários, fazem isso para ganhar dinheiro e chegam a faturar R$ 80 mil por evento. Vários já estão sendo investigados. “Eles alugam chácaras, galpões ou prédios abandonados em lugares ermos, compram bebidas muitas vezes falsificadas, estão cada dia num lugar e conseguem reunir cerca de 2 mil pessoas. Fazem a divulgação dois ou três dias antes, muitas vezes pelas redes sociais, e no dia seguinte ao evento não tem mais nada no lugar. Eles contam com a velocidade da propagação da informação pelas redes sociais e com a morosidade do poder público em fiscalizar e evitar que esses eventos ocorram”, destaca.

<p>Usuários comenta cancelamento de festa divulgada por rede social</p>
Usuários comenta cancelamento de festa divulgada por rede social
Foto: Facebook / Reprodução

O MP também vai apurar se os dois estudantes apontados pela polícia como organizadores da Inter Reps, Henrique Scali Menegatti, 22 anos, e Gabriel Juncal Prudente, 25, permitiram a entrada de menores de idade, possuíam auto de vistoria do Corpo de Bombeiros e alvará. Eles chegaram a ser presos, mas foram soltos horas depois por ordem judicial.

No ano passado, o Ministério Público conseguiu impedir na Justiça a realização de dois eventos do mesmo tipo. Os processos seguem em andamento e o MP pede a condenação civil dos responsáveis. A responsabilidade de fiscalizar esse tipo de evento, segundo o promotor, é da Prefeitura.

“E da polícia para manter a ordem. O fiscal da prefeitura tem que chegar e fechar o evento que está irregular. Mas é evidente que o poder político nunca age dessa forma, sempre tenta deixar para depois. Poder público sem autoridade. E esse o caso, mas não só em Bauru. É generalizado”, critica.

O promotor também cobra empenho das universidades e faculdades na tentativa de coibir esse tipo de evento, proibindo a divulgação dentro dos campus.

Estudante recebe alta

Ao todo, sete estudantes que passaram mal durante a festa deram entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Ipiranga, segundo a prefeitura.

Dos três que estavam internados em estado grave em hospitais da cidade, dois já receberam alta médica. A estudante de engenharia de produção, Juliana Tibúrcio Gomes, 19 anos, que estava no hospital da Unimed recebeu alta nesta terça-feira. Já Mateus Pierri Carvalho saiu do hospital na segunda-feira.

Um boletim médico divulgado pela Fundação Médica para o Desenvolvimento Hospitalar (Famesp), que administra o Hospital Estadual de Bauru, informa que Gabriela Alves Correa, de 23 anos, segue internada em leito clínico. O estado de saúde dela é considerado estável. Ela está hidratada, orientada e passa bem. Após avaliação médica a jovem está fazendo fisioterapia respiratória e, por enquanto, não há previsão de alta hospitalar. 

Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade