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Bueiros explosivos: por que os cariocas andam sobre 'bombas'

19 jul 2010 - 10h02
(atualizado às 10h05)
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Luís Bulcão Pinheiro
Direto do Rio de Janeiro

"Cuidado, mãe! Não pisa aí." Foi assim que a consultora de beleza Eliane Barros, 50 anos, atravessou com sua mãe a esquina da rua República do Peru com a avenida Nossa Senhora de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, onde fica o bueiro que explodiu no dia 29 junho, ferindo gravemente a turista americana Sarah Nicole Lowry.

Empresário testemunhou explosão de bueiro em frente a sua loja, em Ipanema, na última quarta-feira (14)
Empresário testemunhou explosão de bueiro em frente a sua loja, em Ipanema, na última quarta-feira (14)
Foto: Luís Bulcão Pinheiro / Especial para Terra

O bueiro está selado e, não fosse pela camada nova de asfalto no local, nada indicaria o incidente ocorrido há mais de 15 dias. Pessoas continuam circulando, e os carros trafegam por cima da tampa de metal junto à faixa de pedestres. No entanto, o perigo que está dentro dos bueiros do Rio de Janeiro ainda permanece uma incógnita. Desde o início do ano, pelo menos 11 ocorrências semelhantes foram registradas - duas com feridos, segundo levantamento do Terra.

Estariam os cariocas caminhando sobre bombas que podem explodir a qualquer momento, erguendo tampas de metal e levando chamas repentinas à superfície? A concessionária Light, responsável pelo fornecimento de energia na região e pela manutenção das câmaras subterrâneas, onde aconteceram três explosões nos últimos 15 dias, todas entre Ipanema e Copacabana, limita-se a dizer que "as ocorrências foram diferentes, bem como as causas".

Indagada se há perigo de novas explosões, a Light, por meio de sua assessoria de comunicação, admitiu a necessidade de melhorias na manutenção da rede subterrânea. Segundo a concessionária, medidas já estão sendo adotadas, e o investimento em manutenção subiu de R$ 6 milhões em 2009 para R$ 10 milhões em 2010. Contudo, o que, afinal, estaria ocasionando os recorrentes incidentes registrados.

Na opinião do pesquisador da Coordenação dos Cursos de Pós-graduação em Engenharia da UFRJ (Coppe), Moacyr Duarte, são diversas as possibilidades de uma explosão subterrânea ocorrer. Ele explica que as câmaras subterrâneas são utilizadas para acondicionar materiais diversificados, como fiações, transformadores, tubulações de esgoto, gás, ou cabos de fibra ótica. "A questão é saber qual é o material acondicionado dentro dessas câmaras onde ocorreram as explosões. A Light diz que está investigando, mas por que não informa qual o equipamento?", afirma.

Para o pesquisador, o primeiro passo para evitar o risco de explosões é a confecção de um mapeamento do subsolo. "Só ouvi os órgãos competentes falarem em mapeamento após o acidente (com o casal de americanos em Copacabana)". De acordo com Duarte, o procedimento é necessário para que materiais e equipamentos incompatíveis não entrem em contato e provoquem acidentes. "São várias empresas usando as câmaras subterrâneas com diferentes finalidades, esgoto, gás, telefone, energia elétrica. Deveria haver integração entre elas para garantir a segurança", diz.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável por fiscalizar as concessionárias que distribuem energia, multou a Light em R$ 9,5 milhões em fevereiro deste ano por falhas na manutenção e operação nas redes subterrâneas do Rio, especialmente em Copacabana, Leblon, Ipanema e Centro. A empresa recorreu e aguarda a decisão final. Durante fiscalização em novembro de 2009, o órgão federal afirmou ter encontrado equipamentos em "fim de vida útil" e "deficiências na gestão de cargas", uma das possíveis causas das explosões.

Na última segunda-feira, a Light apresentou um relatório descrevendo as medidas implantadas para atender as solicitações da agência. De acordo com a Aneel, novas fiscalizações vão ser realizadas, e a empresa estará sujeita a sanções caso as implementações não tenham sido realizadas.

Vítimas

Sentado bem em frente ao mesmo bueiro na rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, onde na última quarta-feira (14) ocorreu uma explosão, o empresário David Harari, 75 anos, diz não temer o perigo do subterrâneo. "Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, não é mesmo? Porque o mesmo bueiro haveria de explodir?", diz. Apesar do bom humor, ele descreve o incidente como um susto. "Foi um estrondo enorme. Vi a tampa levantar. Chamei os bombeiros. Não tinha cheiro de gás. Mas muito cheiro de queimado depois", afirma.

Sarah Nicole Lowry, a americana de 28 anos atingida pela explosão em Copacabana, continua na unidade de terapia intensiva da Clínica São Vicente, na Gávea. Ela teve 80% do corpo queimado. Segundo o horpital, seu estado é grave e, apesar de estar reagindo bem ao tratamento, ainda corre risco de vida. Seu marido, David MC Laughlin, 31 anos, também continua internado na mesma clínica. Porém, seu estado não apresenta risco de vida.

A Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat) ainda aguarda o relatório da perícia para tomar medidas. A Light disse que só vai se pronunciar sobre as causas do incidente diante do laudo que está sendo preparado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli.

As possíveis explicações

Para o pesquisador Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de riscos, há duas possibilidades recorrentes em caso de explosões de bueiros:

1 - Quando a câmara subterrânea que acondiciona equipamentos é "contaminada" por gás ou por combustível automotivo. Uma faísca elétrica poderia causar a combustão do material, que se consumiria rapidamente em efeito explosivo.

2 - Diante da explosão de um equipamento elétrico que utiliza óleos isolantes (como transformadores) acondicionado na câmara subterrânea. Isto geralmente ocorre quando a carga de energia é muito elevada o que causaria um aumento excessivo da temperatura do óleo isolante. O óleo vaporiza e se expande pela câmara subterrânea em efeito explosivo.

Indícios da explosão

Segundo Duarte, seria possível obter bons indícios da origem da explosão que vitimou o casal de americanos analisando as roupas usadas pelas vítimas. Segundo ele, explosões provocadas por gás não deixam resíduos. "O vazamento (de gás) vai progressivamente ocupando o espaço da câmara até atingir concentração explosiva", afirma.

Já a explosão de um equipamento elétrico, ocasionada pela expansão do óleo isolante vaporizado, deixa resíduos que podem ser verificados por peritos nas roupas das vítimas.

Fonte: Especial para Terra
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