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Abraji: 96 jornalistas foram agredidos em protestos, a maioria por PMs

Levantamento de entidades ligadas à categoria apontam escalada de violência contra jornalistas brasileiros nos últimos anos

21 out 2013 - 15h34
(atualizado às 18h46)
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Pelo menos 96 jornalistas brasileiros foram agredidos desde junho, quando teve início a onda de protestos no País, segundo levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Desses casos, 71 (74%) foram resultado da ação de policiais militares.

Repórter do Terra é agredido pela PM em protesto em SP

Na tarde desta segunda-feira, quatro jornalistas foram agredidos no Rio de Janeiro durante a cobertura de protesto contra o leilão do campo petrolífero de Libra. Houve confronto entre manifestantes e agentes da Força Nacional na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, próximo ao hotel onde o pregão foi realizado.

A repórter Aline Pacheco, da TV Record, foi agredida por manifestantes com um soco nas costas. O fotógrafo Gustavo Oliveira, da agência britânica Demotix, foi atingido por uma pedrada. O também fotógrafo Pablo Jacob, de O Globo, e o cinegrafista Marco Mota, da TV Brasil, foram atingidos por balas de borracha disparadas por agentes da Força Nacional. Um veículo da TV Record foi virado por manifestantes.

Nas manifestações do Dia do Professor, 15 de outubro, o repórter fotográfico Pablo Jacob foi agredido por policiais com golpes de cassetetes. Na sexta-feira, Pablo voltou a ser agredido - desta vez por manifestantes - quando cobria a soltura de pessoas detidas nas manifestações do dia 15. Além dele, os também fotógrafos Carlos Wrede, do jornal O Dia e Luiz Roberto Lima, do Jornal do Brasil, também foram agredidos por manifestantes. O clima hostil persistiu no sábado, quando novos alvarás de soltura foram expedidos.

Em São Paulo, o fim de semana também foi violento para a imprensa. A repórter do jornal O Globo Tatiana Farah foi alvo de dois disparos de bala de borracha durante protestos no sábado. Tatiana cobria, em São Roque, interior de São Paulo, a manifestação contra o uso de animais (especialmente cães da raça beagle) em testes farmacológicos.

Segundo a repórter, embora ela gritasse ser da imprensa e estivesse com as mãos para o alto, um policial do choque mirou seu rosto e disparou uma bala de borracha, que passou de raspão por seu couro cabeludo. Outro disparo feriu-a na região das costelas. Nesse mesmo protesto, manifestantes atearam fogo a dois veículos da TV TEM, afiliada da rede Globo que cobre a região.

Ainda em São Paulo, nas manifestações do Dia do Professor, 15 de outubro, o repórter fotográfico Yan Boechat foi espancado por um grupo de policiais militares que tentava impedir que ele registrasse imagens da agressão a um manifestante, segundo o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP). Levantamento da entidade contabilizou 23 casos de agressão e cinco detenções de profissionais de comunicação durante o mês de junho.

Violência tem crescido nos últimos anos

Para organizações de direitos humanos e entidades de classe, apesar de as manifestações terem elevado os números deste ano, a violência contra profissionais de comunicação tem crescido nos últimos anos. Os assassinatos, por exemplo, passaram de dois, em 2005, para seis, em 2011, de acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

O presidente da Fenaj, Celso Schröder, cita alguns fatores que explicam essa curva ascendente de violência contra jornalistas, entre eles a impunidade. "(As agressões) ocorrem principalmente na cobertura de política, há um senso comum de que é permitido fazer. É na imprensa que se dá o confronto direto entre os interesses privados, que sejam ilegais, com o interesse público, e isso produz reações", declarou em seminário internacional sobre violência contra jornalistas e o cerceamento do direito da sociedade à informação. O encontro é promovido pela comissão organizadora do Prêmio Vladimir Herzog, na capital paulista.

O presidente do SJSP, José Augusto Camargo, avalia que esse tipo de violência não se resolve apenas com ações individuais. "É um problema pessoal, porque envolve o direito ao exercício da profissão, mas também é uma questão coletiva, porque cala a voz da sociedade". Para ele, a escalada de violência percebida no último mês de junho tem paralelo com o período da ditadura militar. "Não se via isso desde então."

As entidades sindicais defendem a adoção de políticas públicas para combater esse aumento das agressões, como a formação de um observatório nacional que monitore as denúncias. "É uma questão que tem nos preocupado. Desde o ano passado, um grupo de trabalho da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, com organizações da sociedade civil, discute medidas como a federalização desses crimes", disse Bruno Renato Teixeira, ouvidor nacional de Direitos Humanos da secretaria. Ele informou que a criação do observatório deve ser anunciada ainda este ano.

Schröder propõe a adoção de um protocolo pelas empresas de comunicação que garanta aos profissionais, entre outras questões, seguro de vida, equipamentos, autonomia do repórter para a escolha da pauta e a criação de uma comissão que avalie os enfoques dados às reportagens. "Boa parte das empresas não dá aos seus jornalistas ferramentas para a proteção", disse. Ele rejeita a ideia de que o risco é inerente ao jornalismo. "Não é verdade isso. Uma cobertura jornalística precisa ser avaliada desse ponto de vista para que possamos minimizar os riscos quando eles ocorrem", defendeu.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus. A mobilização surtiu efeito e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas – o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritiba,

SalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. "Essas vozes precisam ser ouvidas", disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Agência Brasil Agência Brasil
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