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Cartunista transforma sua doença degenerativa em quadrinhos

Rafael Correa criou página onde publica quadrinhos contando suas experiências desde que foi diagnosticado com Esclerose Múltipla

3 ago 2015 - 07h26
(atualizado às 08h49)
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Autorretrato para o projeto Memórias de um Esclerosado
Autorretrato para o projeto Memórias de um Esclerosado
Foto: Divulgação

“Em 2010 fui diagnosticado com esclerose múltipla, uma doença autoimunitária que ataca o sistema nervoso. Aqui contarei, em forma de quadrinhos autobiográficos, um pouco desta experiência.” É com essa descrição crua e direta que o cartunista Rafael Correa, 39 anos, deu à luz seu projeto Memórias de um Esclerosado, uma página na internet para transformar sua enfermidade em expressão artística.

“Antes de mais nada, sou um contador de histórias, comecei a desenhar para isso. Quando vi que tinha uma grande história nas mãos resolvi transformá-la em quadrinhos, que é a arte que eu domino. Se eu fosse um cineasta certamente faria um filme”, conta Rafael, sem autocomiseração.  “É uma ideia que vem amadurecendo desde o diagnóstico, mas como é um assunto delicado e às vezes dolorido, eu fui empurrando com a barriga”, relata. “A ideia inicial era fazer um livro, mas é tanta coisa para falar. Aí um amigo me deu a ideia de fazer uma web série, ir produzindo e publicando aos poucos, e isso tirou o peso das minhas costas. decidi que já era hora de mostras essa história para as pessoas.”

"Quando vi que tinha uma grande história nas mãos resolvi transformá-la em quadrinhos, que é a arte que eu domino", diz o cartunista
"Quando vi que tinha uma grande história nas mãos resolvi transformá-la em quadrinhos, que é a arte que eu domino", diz o cartunista
Foto: Carol de Goes / Divulgação

Gaúcho de Rosário do Sul radicado em Porto Alegre, Rafael começou a sentir os sintomas da esclerose múltipla em 2008. Sentia-se muito cansado após atividades físicas e caminhadas. O neurologista que ele consultou pediu alguns exames e constatou que ele não tinha nada de anormal. Vida que segue. Mas no final de 2009, Rafael já sentia dificuldades para exercer seu ofício, desenhar virara um esforço penoso. Ele procurou outro médico que, após uma ressonância magnética, diagnosticou a doença.

Humor e melancolia

Rafael começou a desenhar aos dez anos e a esta altura já sabia que queria ser cartunista quando crescesse. Aos 14, publicou sua primeira tirinha em um jornal de Rosário e, aos 17, passou a exercer o ofício profissionalmente. “Hoje, só consigo desenhar por meia hora, depois disso minha mão cansa e preciso dar um tempo”, conta Rafael. “Só caminho com auxílio da Rita, minha bengala, e mesmo com ela não consigo ir muito longe por causa da fadiga”, relata, sem perder humor, que é a matéria-prima de seu trabalho. “Minha obra está marcada pelo humor. Sou uma pessoa bem humorada e isso herdei do meu pai, que é um cartunista que não desenha”, define. “Não vai ser diferente nesse novo projeto, embora eu alterne momentos de melancolia e tristeza.”

Foto: Divulgação
Rafael pretende publicar de uma a duas HQs por semana
Rafael pretende publicar de uma a duas HQs por semana
Foto: Divulgação

Rafael mantém seu trabalho como ilustrador e designer e desenvolve outros projetos autorais além do Memórias de um Esclerosado, que pretende reunir em livro. “Mas como vou fazer uma ou duas páginas por semana isso, vai demorar um pouco. Pelos meus cálculos, daqui a dois anos”, conta. Seus trabalhos anteriores já lhe renderam prêmios em diversos países, entre os quais Itália, Espanha, Turquia e Armênia.

Autorretrato

Não é de hoje que Rafael usa a si próprio como personagem de suas histórias. “Já tinha feito algumas HQ curtas me colocando como personagem, isso não é nenhuma novidade, vários quadrinhistas fazem o mesmo”, explica. “mas tenho certeza que com o Memórias vai ser mais intenso.”

Desenho em progresso de Rafael Correa
Desenho em progresso de Rafael Correa
Foto: Divulgação

Ele define a experiência do Memórias de um Esclerosado como “uma jornada de autoconhecimento” e ao mesmo tempo uma aventura na mão de um contador de histórias com vontade de narrá-las. “É mais uma necessidade de colocar para fora sentimentos e até entender o que está acontecendo. Se isso vai ajudar as outras pessoas, ótimo, mas não é o que está me motivando nesse momento.”

Rafael garante que tratar de um tema tão sério com uma linguagem que é essencialmente ligada ao humor não é um problema. “É a maneira como escrevo, não sei fazer de outra maneira. Não tenho essa preocupação. A preocupação é de narrar uma história interessante para o leitor”, resume. 

Curtidas e experiências compartilhadas

O Memórias de um Esclerosado foi ao ar há uma semana. No segundo dia já havia ultrapassado as 2.000 curtidas no Facebook. O autor conta que estimava umas 200 a 300 curtidas. “Muita gente me procurou compartilhando experiências, gente me parabenizando por colocar em desenhos o que também sentem”, afirma. O desenhista se alegra ao citar um rapaz que o procurou. “Ele é desenhista e devido à esclerose múltipla ficou cego por um tempo. Agora recuperou a visão e está muito feliz e desenhando como nunca”, conta. “Fiquei feliz por ele”.

Rafael relata que a cada seis meses sente pioras provocadas pela doença. “Tipo, isso eu conseguia fazer o ano passado, aquilo era mais fácil etc.” Por enquanto, os tratamentos que tentou não surtiram efeito. “Atualmente estou tomando Colecalciferol (ou Vitamina D3). Tenho acompanhado pacientes que usam e tiveram ótimos benefícios, mas comigo ainda não”, diz o cartunista. “Estou em busca”, completa.

A ESCLEROSE MÚLTIPLA

O QUE É

A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica do sistema nervoso central que afeta o cérebro e a medula espinhal e que interfere na capacidade do cérebro e da medula espinhal para controlar funções, como caminhar, enxergar, falar, urinar e outras.

Esta doença neurológica não é uma doença mental, não é contagiosa, não é suscetível de prevenção, não tem cura e seu tratamento consiste em atenuar os efeitos e desacelerar a progressão da doença.

A Abem (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla) estima que, atualmente 35 mil brasileiros são portadores de esclerose múltipla. Incide geralmente entre 20 e 50 anos de idade, predominando entre as mulheres.

DIAGNÓSTICO

Se existe a suspeita de estar com esclerose múltipla, a primeira coisa a ser feita é buscar esclarecer o diagnóstico. Deve-se então, procurar um médico neurologista, que é o profissional mais adequado a investigar e tratar pacientes com a doença.
Existe uma série de doenças inflamatórias, infecciosas, que podem ter sintomas semelhantes ao da esclerose múltipla. O mais importante é aliar ao conhecimento médico, a história da pessoa e exames físicos, neurológicos e laboratoriais.

O QUE CAUSA?

Até o momento a causa é desconhecida. Nas pesquisas, amplos esforços são dirigidos ao estudo do indivíduo portador, como também do ambiente onde vive. A deterioração da mielina é provavelmente mediada pelo sistema imunológico em indivíduos geneticamente predispostos, o que resulta em um ataque maciço ao próprio tecido nervoso, isto é, uma resposta auto-imune. Ainda não foi identificado um antígeno específico.

 

Fonte: Abem – Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (http://www.abem.org.br/)

Fonte: Terra
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