Quando chegou à casa nova, Rosa já tinha um quarto com brinquedos, um berço e ganhou dois irmãos mais velhos. Ela parecia menos ansiosa e mais feliz. Uma codorna criada no terreno da casa virou seu bicho de estimação. “No primeiro dia ela estranhou um pouco, mas agora ela já se acostumou, está bem apegada com a gente”, contava Terezinha uma semana após a separação da mãe.
Mas a separação também reuniu pai, mãe e filha pela primeira vez em uma visita ao presídio de Caxias para onde Maria voltou.
Na nova casa, as crises de asma desapareceram, Rosa demonstrava medo de homens, provavelmente pela falta de convívio nos tempos de cadeia feminina, e ficava desconfiada quando a porta de casa era fechada. A criança passava os dias correndo de um lado para outro, passava sempre na casa da mãe de Daniel, marido de Terezinha, onde ganhava pedaços de polenta e fatias de salame, como uma típica criança da serra gaúcha.
"Dá para ver a mudança no olhar dela. Está feliz. Antes era meio comedida, parecia que brincava pouco", dizia Terezinha.
Adaptada com a nova família, Rosa vê os “irmãos” chamando Terezinha de mãe e faz a mesma coisa, apesar de a guardiã tentar deixar claro quem é sua verdadeira mãe. Nas visitas ao presídio, ela chama as duas de mãe, o que deixa Maria um pouco revoltada. “Eu sempre digo que é o dindo e a dinda (padrinho e madrinha)... boto sempre uma foto da Maria por perto dela também”, diz Terezinha.
De volta ao inferno
Enquanto a filha parece feliz como nunca, Maria aparenta ter voltado ao inferno. Um presídio comum, mesmo que feminino, é bem mais assustador que a ala materno-infantil. “Não tem um dia que eu não chore, que eu não esteja abalada com alguma coisa. O foda é o lugar. Tu não tem noção do que é, é um horror”, dizia, em prantos, ao falar das brigas e disputas de poder entre as encarceiradas.
A visita ocorreu no final de 2012, quando Maria estava prestes a progredir de pena para o semiaberto e, assim, trabalhar fora e voltar para dormir na prisão. Nessa época, ela anunciava uma nova gravidez, “já sinto mexer, assim como era com a Rosa”, dizia. Entretanto, a suspeita não foi confirmada por exames.
Quando visita a mãe no presídio, Rosa se apega muito ao pai. E começa a surgir os ciúmes de Maria, tanto com o marido quanto com Terezinha, pelo fato de a criança também a chamar de mãe.
Rosinha almoçando em casa com a família, já em liberdade
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Terezinha ao lado de Rosinha em casa
Foto: Terra
Quarto de Rosinha com a cama coberta de brinquedos
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Após viver em liberdade, ela passa os dias brincando
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria, em liberdade, mas ainda atormentada com a caminhada árdua que teria que enfrentar
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Terezinha e Rosa criaram um laço muito forte de maternidade
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
O pai de Rosa só foi ter o primeiro contato com a criança depois de um ano
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
A família alugou uma casa para poder passar os domingos juntos durante o cumprimento da pena no semiaberto
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria fazia de tudo para tentar encontrar a normalidade depois da prisão
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Rosa e sua girafa de pelúcia na casa da nova família
Foto: Daniel Favero / Terra
Fachada da Penitenciária Industrial de Caxias do Sul
Foto: Daniel Favero / Terra
Detentas abraçam Maria após ela entregar a filha para a nova família, mesmo que temporariamente
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Rosa nos braços da nova irmã em Caxias do Sul
Foto: Daniel Favero / Terra
Berço de Rosa na casa da nova família em Caxias
Foto: Daniel Favero / Terra
Maria após voltar para o presídio de Caxias do Sul, já afastada da filha
Foto: Daniel Favero / Terra
Maria observa a filha deixar seus braços no presídio pela última vez em Porto Alegre
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Momento no qual a criança é entregue para a nova família
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria tenta prolongar os últimos momentos que ainda teria com a filha
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Chorando muito, ela olha a filha nos poucos minutos que lhe restam ao seu lado
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria tenta amamentar a filha, para que ela deixe o presídio dormindo
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Aquele dia talvez tenha sido o mais difícil da vida de Maria
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Moranguinho foi o tema da festa de aniversário e despedida
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Quem visse de fora veria apenas uma festa de aniversário, que logo depois ganhou contornos de funeral
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Coleguinhas, filhso de outras detentas, também aproveiraram a festa
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
A festa teve decoração igual a qualquer outra comemoração fora dos presídios
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Carrinhos de bebê e cadeirinhas usadas pelas detentas com filhos em Porto Alegre
Foto: <p>Carrinhos de bebê e cadeirinhas usadas pelas detentas com filhos em Porto Alegre</p>
Maria com a filha no período no qual viveu a maternidade de forma muito intensa
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Berço no presídio Madre Pelletier
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Corredores do presídio Madre Pelletier, o parquinho de Rosa
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Brinquedos espalhados pelo chão do presídio
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Rosa brinca com uma bola no presídio
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Nova família no dia da festa de aniversário
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Carrinhos e cadeiras de bebê usado pelas detentas que tiveram filhos enquanto encarceiradas
Foto: Daniel Favero / Terra
Rosa no berço no qual dormiu nos primeiros meses de vida dentro do presídio
Foto: Reprodução
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Capítulo 5 - Rosa em liberdade: "tu vê a mudança no olhar":