Entre as presas custodiadas na ala materno-infantil na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, o colorido das paredes e a aparente tranquilidade disfarçam a tensão inerente a qualquer presídio. Entretanto, o local ainda está longe do ideal para se criar um filho, apesar de as funcionárias dizerem que muitas presas aprendem a se tornar mães lá dentro, mesmo já tendo filhos nas ruas.
As detentas ficam alojadas em quartos, mas podem circular por diversas outras salas, onde recebem atendimento psicológico e social. Foi lá que Rosinha passou seus primeiros 12 meses de vida. Os corredores eram seu parquinho e ela vivia grudada na mãe, que não fazia outra coisa a não ser cuidar da filha. Entretanto, a menina não sabia o que era brincar em uma praça, bater os braços na água em uma piscina. Ela sempre apontava para a janela e batia nas grades com sua canequinha.
Quando começou a sair com Terezinha, ela conheceu o mundo exterior, mas não demorou para adaptar-se. “Com o que é bom a gente se acostuma logo”, dizia a mãe postiça. Rosa estranhava a presença de homens. Quando tivemos o primeiro contato com a criança, em maio de 2012, ela ainda não andava e se comportava como qualquer bebê de 9 meses.
Um mês depois, Rosa engatinhava para todo o lado. Sua maior diversão era correr com seu andador. Esse ímpeto lhe rendeu o apelido de “bebê monstro”. Neste mesmo mês, seu primeiro dentinho aparecia. Dois meses depois, já eram seis dentes nascendo.
"Ela já faz 'mã-mã', conhece a coordenadora da creche e a chama de Cacá. Ela é terrível... anda por tudo com o andador, atropela as gurias... ela conhece todas. Sabe quem dá atenção, quem dá manha para ela... tudo. Acho que ela vai sair daqui andando, porque, tem que ver, ela já sabe ficar de pé, se segura...", orgulha-se a mãe.
De junho a agosto de 2012 as saídas de Rosinha começam a ficar cada vez mais frequentes e longas. Para ficar com a criança, Terezinha percorria mais de 240 quilômetros. Na rua, as marcas deixadas pelo encarceramento da mãe começam a transparecer em Rosa, que chorava ao voltar para os braços de Maria.
Nesse momento, a criança estava em uma das fases mais prazerosas de seu desenvolvimento. Começava a balbuciar algumas palavras e a dar os primeiros passos. Mas a alegria apenas esconde a ansiedade que cresce à medida que o aniversário de 1 ano da criança se aproxima, dia no qual seria separada da mãe.
Maria começa a ficar mais desestabilizada, relata frequentes ataques de asma da criança, que desaparecem na rua, e ela começa a temer pela segurança no presídio. "A gente tem medo de alguma presa brigar contigo e resolver descontar no teu filho. É muita droga... a falta da droga (...) aqui a gente sempre está em perigo, até pelo fato de as gurias brigarem entre si, alguma coisa pode acontecer, de jogarem água fervendo uma na outra, como já aconteceu, e respingar em uma criança (...) o tempo inteiro é baderna lá em cima, gritaria, rádio ligado. Eu já tenho um jeito diferente, é bem complicado ficar aqui", reclamava.
O desespero faz com que ela prometa para si mesma um futuro melhor. "Agora acho que sou uma mãe apaixonada pela minha filha, sou uma pessoa muito melhor, eu não era uma pessoa ruim, mas hoje sou muito, muito, melhor. Hoje eu vejo as coisas de uma forma muito diferente, minha mãe, meu pai...".
Rosinha almoçando em casa com a família, já em liberdade
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Terezinha ao lado de Rosinha em casa
Foto: Terra
Quarto de Rosinha com a cama coberta de brinquedos
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Após viver em liberdade, ela passa os dias brincando
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria, em liberdade, mas ainda atormentada com a caminhada árdua que teria que enfrentar
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Terezinha e Rosa criaram um laço muito forte de maternidade
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
O pai de Rosa só foi ter o primeiro contato com a criança depois de um ano
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
A família alugou uma casa para poder passar os domingos juntos durante o cumprimento da pena no semiaberto
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria fazia de tudo para tentar encontrar a normalidade depois da prisão
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Rosa e sua girafa de pelúcia na casa da nova família
Foto: Daniel Favero / Terra
Fachada da Penitenciária Industrial de Caxias do Sul
Foto: Daniel Favero / Terra
Detentas abraçam Maria após ela entregar a filha para a nova família, mesmo que temporariamente
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Rosa nos braços da nova irmã em Caxias do Sul
Foto: Daniel Favero / Terra
Berço de Rosa na casa da nova família em Caxias
Foto: Daniel Favero / Terra
Maria após voltar para o presídio de Caxias do Sul, já afastada da filha
Foto: Daniel Favero / Terra
Maria observa a filha deixar seus braços no presídio pela última vez em Porto Alegre
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Momento no qual a criança é entregue para a nova família
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria tenta prolongar os últimos momentos que ainda teria com a filha
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Chorando muito, ela olha a filha nos poucos minutos que lhe restam ao seu lado
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Maria tenta amamentar a filha, para que ela deixe o presídio dormindo
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Aquele dia talvez tenha sido o mais difícil da vida de Maria
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Moranguinho foi o tema da festa de aniversário e despedida
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Quem visse de fora veria apenas uma festa de aniversário, que logo depois ganhou contornos de funeral
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Coleguinhas, filhso de outras detentas, também aproveiraram a festa
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
A festa teve decoração igual a qualquer outra comemoração fora dos presídios
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Carrinhos de bebê e cadeirinhas usadas pelas detentas com filhos em Porto Alegre
Foto: <p>Carrinhos de bebê e cadeirinhas usadas pelas detentas com filhos em Porto Alegre</p>
Maria com a filha no período no qual viveu a maternidade de forma muito intensa
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Berço no presídio Madre Pelletier
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Corredores do presídio Madre Pelletier, o parquinho de Rosa
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Brinquedos espalhados pelo chão do presídio
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Rosa brinca com uma bola no presídio
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Nova família no dia da festa de aniversário
Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Carrinhos e cadeiras de bebê usado pelas detentas que tiveram filhos enquanto encarceiradas
Foto: Daniel Favero / Terra
Rosa no berço no qual dormiu nos primeiros meses de vida dentro do presídio