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Brasília vive noite de tensão, com quebra-quebra e fogo no Itamaraty

21 jun 2013 - 00h34
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Após um início pacífico, a maior manifestação em Brasília desde a eclosão da onda de protestos pelo país teve momentos de grande tensão nesta quinta-feira, quando um grupo esteve prestes a invadir o Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty) e chegou a provocar um foco de incêndio na entrada do prédio. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-lo.

Também houve confrontos em frente ao Congresso, quando manifestantes tentaram furar o bloqueio policial. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, 127 pessoas receberam atendimento médico em meio aos tumultos, além de dez policiais.

Por volta das 18h30, cada centímetro do gramado em frente ao Congresso já parecia ter sido ocupado, e muitos manifestantes ainda estavam a caminho. Quem chegava ao local pelas vias laterais do Eixo Monumental tomava um susto ao se deparar com as 35 mil pessoas que, segundo a Polícia Militar, se aglomeravam no desnível diante do edifício. Alguns choravam, emocionados.

Desta vez, para impedir que, como na segunda-feira, os manifestantes ocupassem a laje e a garagem do Congresso, a polícia se reforçou. Unidades da cavalaria guardavam as laterais, enquanto a tropa de choque se posicionou nas rampas.

O esquema também vedava o acesso à Praça dos Três Poderes e ao Palácio do Planalto, aos fundos.

Panela de pressão

Diferentemente dos últimos protestos na cidade, em que estudantes compunham imensa maioria, nesta quinta o grupo era mais diverso.

Havia engravatados recém-saídos do trabalho, indígenas, movimentos sociais (entre os quais sem-terra, sem-teto e ativistas da causa LGBTT), associações de professores e torcidas de times locais. Comunistas balançavam bandeiras vermelhas, e pequenos grupos puxavam gritos nacionalistas ou que tinham, entre os principais alvos, a Copa do Mundo, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) e o Congresso.

Uma das únicas palavras de ordem que tiveram adesão geral pedia a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Uma bateria ditava o ritmo dos coros.

Com o tempo, a multidão crescia ainda mais. E, contida naquele espaço, como uma panela de pressão, parecia prestes a explodir.

Até que grupos tentaram furar em dois pontos a barreira policial diante do Congresso.

Bombas atiradas por manifestantes explodiam a todo instante nos pés dos agentes, que continham tentativas de furar o bloqueio com cassetete e jatos de spray de pimenta. A maioria dos manifestantes vaiava os autores dos disparos de mosteiros.

Defesa da violência

Mas diferentemente das últimas manifestações na cidade, um grupo expressivo defendia publicamente as ações violentas - aos pedidos de "sem violência", retrucavam gritando "sim, violência" ou "sem moralismo".

Quando o conflito na barreira policial se acirrou, a força valeu-se pela primeira vez de bombas de gás lacrimogêneo, lançando-as num extenso raio que chegava até o fundo do gramado.

Conforme a nuvem se espalhava, os manifestantes fugiam, subindo os barrancos laterais na direção do Palácio do Itamaraty. De longe, a movimentação da massa humana parecia transcorrer em câmera lenta.

A polícia, concentrada no Congresso, logo se viu acuada pelo grupo diante do ministério.

Confrontos

Dezenas de manifestantes mergulharam no espelho d'água diante do órgão, que abriga um jardim aquático projetado por Burle Marx. Enquanto alguns escalaram a escultura Meteoro, de Bruno Giorgi, símbolo do ministério, outros atiraram pedras nas vidraças do edifício.

Confiante, parte do grupo tentou avançar pela entrada principal do prédio, usada somente por autoridades estrangeiras em visitas oficiais. Algumas dezenas de policiais resistiam, mas eram progressivamente empurradas para trás.

Poucos conseguiam furar a barreira e adentrar o ministério, mas logo eram capturados e expulsos. Uma bomba atirada por manifestantes dentro do ministério provocou grande estrondo ao explodir.

Quando a invasão parecia iminente, cerca de dez policiais da tropa de choque que haviam entrado no palácio pelos fundos surgiram na entrada e lançaram bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral na multidão.

Na correria, alguns manifestantes caíram no espelho d'água. A polícia retomou o controle do local. Alguns grupos então acenderam fogueiras nos arredores, engrossando ainda mais a névoa de fumaça.

Depois da ação policial, houve nova dispersão. Enquanto milhares de manifestantes voltaram para o Congresso, outros caminharam alguns quilômetros até o Eixão, principal via expressa da cidade, e o fecharam.

No trajeto, segundo o jornal Correio Braziliense, alguns atiraram pedras em outros ministérios. O jornal diz que um grupo também tentou apedrejar os vitrais da catedral de Brasília.

A polícia, então, passou a perseguir pequenos focos de manifestantes pela Esplanada dos Ministérios, atirando bombas de gás lacrimogêneo inclusive em grupos que não os confrontavam.

A situação só se normalizou perto da meia-noite, quando o gramado do Congresso ficou quase deserto.

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