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Brasil e México iniciarão tratativas para acordo de livre comércio

26 mai 2015 - 20h50
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João Fellet - @joaofellet

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Enviado especial da BBC Brasil à Cidade do México

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira que Brasil e México começarão a negociar em julho um acordo que, segundo um diplomata brasileiro, buscará a liberalização total do comércio com os mexicanos.

"A nossa corrente de comércio é formada por produtos manufaturados, o que garante maior renda e geração de empregos a nossos povos, mas temos também oportunidade pra avançar muito mais tanto nas relações comerciais como nos investimentos recíprocos que podemos receber uns dos outros", disse a presidente durante visita ao Palácio Nacional, na Cidade do México.

Segundo Dilma, o acordo permitirá aos dois países dobrar suas transações comerciais bilaterais "em poucos anos".

Hoje, de acordo com o Itamaraty, Brasil e México mantêm acordos que reduzem as tarifas de 12% dos produtos negociados entre os dois países, em sua maioria carros e outros itens industrializados. A corrente de comércio (soma das importações e exportações) ─ que, segundo o governo,dobrou nos últimos dez anos ─ somou US$ 9 bilhões (R$ 28 bilhões) em 2014. O México tem saldo favorável de US$ 1,6 bilhão (R$ 4,9 bilhões) na relação.

Em seu discurso, Dilma disse que os dois países buscarão o "equilíbrio" das trocas com a "inclusão de novos setores (...) que hoje estão infelizmente fora" dos acordos de redução tarifária.

Um dos principais pleitos do Brasil é pôr na lista produtos agropecuários. O tema é sensível no México, onde agricultores temem a competição de produtores brasileiros.

Após a fala da presidente, o embaixador Antônio Simões – subsecretário do Itamaraty para América do Sul, Central e Caribe – disse a jornalistas que o acordo "buscará, na medida do possível, a liberalização integral do comércio" com o México.

"A ideia é trabalhar substancialmente com todo o comércio."

Questionado se os dois países negociarão um acordo de livre comércio, como esse tipo de acordo é normalmente conhecido, ele evitou o termo, mas não explicou como as tratativas se diferenciarão da modalidade.

Ele afirmou ainda que o arranjo não tratará apenas de comércio, mas de acertos para a prestação de serviços, propriedade intelectual e compras governamentais. O acordo, diz Simões, é complexo e poderá levar vários meses para ser assinado. Ele ainda terá de ser aprovado pelos Congressos dos dois países para entrar em vigor.

O Mercosul, bloco que o Brasil integra com Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela, proíbe seus membros de negociar individualmente com outros países acordos que envolvam reduções tarifárias. O bloco, porém, abriu uma exceção ao México e já se comprometeu a negociar um acordo comercial amplo com o país.

Dilma discursou após se reunir com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, durante uma visita de Estado ao México.

Comércio bilateral

Segundo o governo brasileiro, o México é hoje o quarto maior investidor do Brasil, atrás de União Europeia, EUA e Japão

O objetivo principal da viagem é econômico. Dilma tem buscado no exterior parcerias para estimular a economia nacional, que enfrenta uma recessão.

Na semana passada, ela recebeu em Brasília líderes da China e do Uruguai, e no mês que vem viajará aos Estados Unidos.

Outro resultado da visita de Dilma ao México foi a assinatura de um acordo para facilitar investimentos entre os dois países.

O Brasil até agora só assinou acordos desse tipo com Angola e Moçambique. Diplomatas dizem que o acordo estabelece um canal direto entre os dois governos para resolver problemas envolvendo investimentos, como na concessão de crédito ou de licenças ambientais.

O acordo, segundo Dilma, dará maior segurança aos investidores. Para vigorar, ele também terá de ser aprovado pelo Congresso.

Segundo o governo brasileiro, o México é hoje o quarto maior investidor no Brasil, atrás da União Europeia, dos Estados Unidos e do Japão. Empresas mexicanas já injetaram US$ 23 bilhões (R$ 71 bilhões) na economia brasileira.

Entre as principais companhias mexicanas que atuam no país estão a Mabe (dona das marcas de eletrodomésticos Dako, Continental e GE), a gigante alimentícia Bimbo e a Femsa, que engarrafa a Coca-Cola vendida no Brasil. Também são geridas por mexicanos a fabricante de canos Amanco, as telefônicas Claro e Embratel (administrada pela América Móvil), a NET e a rede de cinema Cinépolis, presente em vários Estados.

Já os investimentos brasileiros no México são mais tímidos e somam US$ 2 bilhões (R$ 6 bilhões), embora estejam crescendo.

A brasileira Braskem está construindo com a mexicana Idesa um polo petroquímico no Estado de Veracruz, e a Gerdau ergue um complexo siderúrgico em Hidalgo. Os dois investimentos totalizam US$ 5,6 bilhões (R$ 17 bilhões).

Dilma e Peña Nieto ainda assinaram acordos nas áreas de aviação civil, pesca, turismo, agricultura e bancos.

Nesta terça, Dilma participaria ainda do encerramento de um seminário entre empresários brasileiros e mexicanos. A presidente volta ao Brasil na quarta-feira, após visitar o Senado mexicano.

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