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Barreiras sanitárias não impedem volta de doenças controladas

28 set 2010 - 08h33
(atualizado às 09h44)
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Daniel Favero

Neste ano o Brasil registrou, pelo menos, 26 casos de infecção por doenças e vírus considerados controlados ou erradicados do País. São casos de sarampo e dengue 4, no Norte, Nordeste e Sul. De acordo com as autoridades, a situação preocupa pela possibilidade de novos surtos porque não é possível aplicar barreiras sanitárias contra estas doenças, principalmente em destinos turísticos, como a Paraíba, onde ocorreram 11 casos de sarampo.

Segundo o relatório feito pelo Ministério da Saúde (MS) sobre os casos de sarampo identificados no Pará, em países onde já foram interrompidas as transmissões de doenças, não é raro identificar casos importados do exterior. No entanto, isso "aponta a necessidade da manutenção de vigilância epidemiológica ativa e alerta". O ministério alerta que, pelas infecções terem ocorrido em pessoas que viajaram para fora ou que tiverem contato com estrangeiros, qualquer Estado brasileiro está exposto ao risco de surtos de sarampo.

As autoridades federais consideram a vigilância epidemiológica no Brasil bem estruturada, o que permitiu a identificação rápida desses vírus. Em 2010, foram confirmados 17 casos de sarampo, sete ocorrências da dengue do sorotipo 4 - que já não circulava em solo brasileiro há 29 anos-, além de duas infecções de raiva em humanos, que resultaram em uma morte. No caso das duas primeiras doenças, exames indicaram que os vírus são do mesmo tipo recorrente em países da África, Europa e Caribe. Entre 2001 a 2006, ocorreram 67 casos de sarampo, em três estados: São Paulo (4), Santa Catarina (4) e Bahia (57).

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, entregou, no início de setembro, à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em Washington, nos Estados Unidos, um relatório para tentar receber o certificado de país livre do sarampo. Segundo o governo, apesar das confirmações dos casos, Brasil ainda pode ser considerado livre da doença.

Nos casos de sarampo registrados no Rio Grande do Sul, as adolescentes que apresentaram os sintomas haviam viajado para a Argentina. No Pará, os três irmãos doentes tiveram contato com europeus, e na Paraíba, ainda não foi identificada a origem das infecções, só se sabe que é o mesmo tipo de vírus encontrado no Estado.

O sarampo é considerado uma doença extremamente contagiosa, o que motivou alerta epidemiológico no Rio Grande do Sul, onde não eram identificados casos desde 1999. Além das três confirmações, outras 40 suspeitas ainda estão sob investigação. "Os sintomas de febre, manchas no corpo e coriza, não são exclusivos do sarampo, existem outras doenças com quadros semelhantes, ainda mais nessa época do ano, com o aumento da incidência de vírus", disse a coordenadora da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, Marilina Bercini. De acordo com ela, com o alerta, muitos desses sintomas são notificados como suspeita de sarampo.

Em Roraima, a dengue do tipo 4 foi confirmada em sete casos. Outras nove suspeitas aguardam confirmação. A doença é considerada mais perigosa para as pessoas que são infectadas pela segunda vez, segundo afirma o gerente do Núcleo de combate à dengue e febre amarela do Estado de Roraima, Joel Lima. "A dengue do tipo 4 é mais perigosa pelo risco de evolução para um quadro hemorrágico". Segundo ele, três pessoas morreram em virtude da dengue clássica no Estado. Seis mortes estão sob investigação.

Exames laboratoriais confirmaram que a dengue do tipo 4 encontrada em Roraima é o mesmo vírus que circula em países caribenhos, especialmente na Venezuela, que tem fronteira terrestre como Estado. No entanto, ainda não se sabe como entrou no País, uma vez que a primeira pessoa infectada não havia viajado para nenhum local com circulação comprovada do vírus, o que sugere que ele pode ter sido infectado na capital.

Raiva
A raiva é considerada uma doença extremamente letal, em todo o mundo, apenas duas pessoas infectadas conseguiram sobreviver à doença. Em 2010 foram identificados dois casos de raiva no País, os dois na região Nordeste. No primeiro deles, no Rio Grande do Norte, a vítima morreu, e no Ceará, a pessoa infectada estava em coma induzido, em estado grave, mas estável. A principal causa para a transmissão é atribuída à falta de vacinação de animais domésticos (como cães e gatos) e ao contato com animas silvestre como saguis e morcegos.

Em 2009, foram registrados dois casos de raiva humana no País, ambos transmitidos por cães e gatos. Nos últimos 24 anos, o pico ocorreu em 1986, quando foram identificados 73 casos, 53 deles no Nordeste. A alta mais recente ocorreu em 2005, com 44 casos, a maioria no Maranhão e Pará onde a doença foi transmitida morcegos.

"Partindo do pressuposto de que a doença foi erradicada, um caso é considerado surto", diz o biólogo do departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Ceará Luciano Pamplona, ao comentar o alerta gerado entre as autoridades de saúde com a infecção de uma pessoa. "Não há motivo para pânico, no entanto, as pessoas devem se conscientizar que devem vacinar seus animais domésticos".

Ele afirma que é perfeitamente possível controlar a raiva entre cães e gatos, mas não em animais silvestres. "Não temos como eliminar a raiva em morcegos e saguis, por exemplo. Por isso, as pessoas devem evitar o contato com esses animais. Muitos levam saguis para casa, sem saber que ele pode transmitir o vírus para os animais domésticos, consequentemente, seres humanos".

Fonte: Redação Terra
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