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Aumento de crimes em família pode ser fenômeno social, dizem especialistas

19 set 2013 - 20h40
(atualizado às 23h23)
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O aumento de crimes dentro de famílias, como mostram quatro homicídios ocorridos em São Paulo em menos de dois meses, podem ser um fenômeno social, segundo especialistas consultados pela Agência Efe.

Para Marina Bazon, psicóloga e pesquisadora da área criminal da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (USP), a perda de espaços de convivência, a fragilidade das relações humanas e a falta de qualidade de vida nos grandes centros urbanos podem ter agravado a violência dentro das famílias.

"Imagine que você está em uma sociedade na qual a situação de trabalho é muito difícil, com empregos informais e direitos violados. Esse estresse vai ter de sair em algum lugar. Se não é fora de casa, vai ser dentro", comentou a psicóloga.

Nos últimos dois meses, a cidade de São Paulo protagonizou mortes em quatro famílias causadas, supostamente, por algum de seus membros, sendo três delas por envenenamento.

O primeiro caso recente aconteceu no dia 6 de agosto, quando Marcelo Pesseghini, um menino de 13 anos, teria matado seus pais, sua avó e sua tia-avó, suicidando-se depois.

O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em segurança pública Guaracy Mingardi alertou que a visibilidade destes crimes familiares podem ter um efeito dominó. Para ele, os indivíduos que já possuem tendência para cometer algum crime podem se sentir inspirados ao ver os crimes que foram cometidos e ganharam visibilidade.

"O caso do suposto homem (sic) que (supostamente) matou sua namorada e quatro filhos dela envenenando-os tem algumas semelhanças com a mãe que envenenou suas filhas. Ambos têm coisas de responsabilidade e de ver os outros como um apêndice, sem uma existência própria", explicou Mingardi.

Na terça-feira, um boliviano foi detido como suspeito de envenenar sua namorada e quatro filhos dela em Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana de São Paulo, e uma mulher, na sexta-feira passada, envenenou suas duas filhas adolescentes, estrangulou seu cachorro e depois tentou se suicidar no bairro do Butantã. No início de setembro, um homem desempregado e endividado se suicidou junto com a esposa e seus dois filhos pequenos em Cotia, também na região metropolitana de São Paulo.

Bazon apontou que a família tem uma função de "segurança", e quando esta faceta não funciona, isso pode levar a uma "crise". "A família é também o lugar onde se descarregam as tensões cotidianas que não são resolvidas nos espaços públicos", acrescentou.

Para a psicóloga, mais que os problemas em si, é a falta de estruturas e políticas públicas o que gera um contexto propício a estes problemas. Neste sentido, Bazon afirmou que, em comparação com o passado, os grandes centros urbanos são cada vez mais "individualistas" e não têm políticas centradas na qualidade de vida do cidadão.

"Antigamente também havia estresse, mas tínhamos um modelo diferente de sociedade com relações de proximidade, de comunidade e de bairro mais forte do que possivelmente são atualmente. É impossível que as famílias não 'adoeçam' junto com a sociedade", finalizou.

EFE   
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