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Asilo a Snowden será debatido em Cúpula do Mercosul

12 jul 2013 - 05h31
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Os países membros do Mercosul, reunidos nesta sexta-feira para a 45ª Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo do bloco, discutirão durante o encontro o asilo oferecido pela Venezuela ao ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança dos EUA, Edward Snowden, que denunciou um amplo esquema de espionagem realizado pelo governo americano.

O programa de vigilância, até então mantido sob forte sigilo, monitorou dados de cidadãos do mundo inteiro, incluindo o Brasil e a América Latina.

"É algo que merece o repúdio de qualquer país que se considere democrático", afirmou a presidente Dilma Rousseff ao chegar a Montevidéu na noite de quinta-feira.

Mais cedo, o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, que também está na capital uruguaia para o encontro, afirmou que a situação de Snowden está sendo discutida pelo bloco sul-americano.

"A situação do sr. Snowden está sendo debatida, é possível que haja uma decisão paralela sobre a questão do asilo. E nós estamos nos coordenando sobre os termos dessa decisão", disse Patriota em Montevidéu, no Uruguai.

Os líderes também devem debater uma declaração comum de repúdio às atividades de espionagem.

"Está em negociação uma decisão dos chefes de Estado quanto às denúncias que afetam o Brasil e todos os países da região. Há um consenso em repudiar tais atos e buscar formas com que os Estados tenham uma proteção cibernética efetiva, que a soberania seja respeitada e também a privacidade dos indivíduos seja honrada", acrescentou o chanceler.

Também serão identificadas formas de ação conjunta no sistema das Nações Unidas.

Os países do bloco devem expressar, ainda, um descontentamento formal quanto à detenção do avião do presidente boliviano Evo Morales em solo europeu.

Na semana passada, Morales, que retornava a La Paz após uma visita oficial a Moscou, teve de fazer um pouso não previsto na Áustria após alguns países europeus terem impedido que a aeronave presidencial sobrevoasse seu espaço aéreo. Havia a suspeita de que Snowden pudesse estar escondido dentro do avião.

Estarão presentes ao encontro a presidente Dilma Rousseff e seus homólogos Cristina Kirchner, da Argentina; José Mujica, anfitrião, do Uruguai; Nicolás Maduro, da Venezuela; e Evo Morales, da Bolívia. A Bolívia fez um pedido de adesão ao bloco em dezembro passado e seu status oficial é de "membro pleno em processo de adesão". Sua adesão ainda precisa ser ratificada pelos Parlamentos dos demais membros.

Os presidentes reúnem-se a partir das 8h da manhã desta sexta-feira.

Rousseff e Kirchner também vão realizar uma reunião bilateral em Montevidéu. Elas devem discutir, entre outros temas, a renovação do acordo automotivo entre os dois países, que expirou no final de junho e ainda não foi prorrogado.

Outros pontos importantes da reunião de cúpula serão a concessão da presidência rotativa do Mercosul à Venezuela, país que participará pela primeira vez como membro pleno, e a aproximação entre o bloco e os países caribenhos.

Tensões internas

A presidência temporária venezuelana vem causando irritação no Paraguai, suspenso do Mercosul após a deposição de Fernando Lugo, em junho do ano passado. A reincorporação do país - que voltaria à "normalidade democrática" exigida pelo Mercosul em 15 de agosto, quando assumir o novo presidente eleito, Horacio Cartes - é outro dos assuntos que deve estar em debate nesta sexta-feira.

O Paraguai havia solicitado a presidência pro tempore do Mercosul, apesar da atual condição, como um gesto de "boa vontade" dos líderes sul-americanos e deixou aberta a possibilidade de abandonar o bloco se a Venezuela assumisse o comando, já que não reconhece o país de Maduro como membro pleno.

Cartes foi convidado para a reunião desta sexta-feira, mas decidiu não comparecer porque ainda não foi empossado como presidente.

"A presidência da Venezuela será um fato da realidade, e a expectativa é de que o Paraguai se adapte a essa nova realidade dentro do mais breve prazo", afirmou Patriota ontem em Montevidéu.

O Mercosul vive tensões internas entre seus integrantes também por conta de impasses de ordem comercial, especialmente entre Brasil e Argentina e entre Argentina e Uruguai - que recentemente levaram o vice-presidente uruguaio, Danilo Astori, a classificar a relação bilateral como "a pior em anos".

Além disso, o país de José Mujica também vem acenando com o interesse de se tornar membro pleno da Aliança do Pacífico - bloco constituído por México, Colômbia, Chile e Peru.

No Uruguai, a adesão é vista como "algo que não é contraditório com as políticas do Mercosul", como considerou Álvaro Ons, diretor de Integração e Mercosul da chancelaria uruguaia em entrevista à rádio local Océano FM. No entanto, para o brasileiro Ivan Ramalho, alto representante do Mercosul, tal entrada deve ser negociada "em bloco", e não individualmente por cada país, segundo informou ele em entrevista ao jornal uruguaio El País.

Outros temas em pauta são as incorporações plenas de Bolívia e Equador ao bloco, a efetivação da entrada de Suriname e Guiana como Estados associados - o que deve ser anunciado formalmente pelos presidentes do bloco nesta sexta-feira - e as dificuldades de avançar nas negociações comerciais entre a União Europeia e Mercosul.

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