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Mundo

Amorim: Hillary mostrou dúvida sobre Irã, mas é preciso tempo

17 mai 2010 - 18h08
(atualizado às 23h10)
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Lúcia Müzell
Direto de Madri

Um dia depois de o Brasil e a Turquia terem intermediado um acordo para a continuidade do programa nuclear iraniano, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, conversou nesta segunda-feira com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, sobre o futuro das negociações. Hillary teria expressado a sua desconfiança em relação à palavra do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.

O presidente Lula tira fotos após firmar o acordo com o Irã, em Teerã
O presidente Lula tira fotos após firmar o acordo com o Irã, em Teerã
Foto: EFE

Para Amorim o fato do Irã ter anunciado, logo após o acordo, que seguirá enriquecendo urânio a 20% em seu território, "não foi um balde de água fria". Para ele, é preciso entender que "na realidade, cada um tem seu público interno", em referência aos setores mais radicais do Irã.

Amorim afirmou em coletiva de imprensa improvisada por telefone, antes de deixar Madri, na Espanha, onde esteve de passagem acompanhando a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que Hillary expôs sua visão. "Acho que ela tem as suas dúvidas, que foram expressas. Eles continuam tendo aquelas desconfianças, ou suspeitas".

O líder brasileiro chegou hoje à capital espanhola para participar da Cúpula União Europeia-América Latina e Caribe, após realizar a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro ao Irã, no domingo e manhã de hoje.

"É claro que se pode dizer: 'Ah, mas eu não acredito'. Mas tem de dar um tempo para ver as coisas acontecerem", afirmou Amorim, destacando que vai continuar as conversas com Hillary e outros representantes diretamente envolvidos na questão nuclear iraniana. Para ele, é preciso dar um voto de confiança a Ahmadinejad porque o Irã deu garantias de que o acordo vai ser cumprido.

O ministro também destacou os pontos novos no avanço para um acordo mais completo com o país do Oriente Médio a fim de estabelecer com mais clareza as intenções pacíficas do programa nuclear de Ahmadinejad. O presidente iraniano se comprometeu com Lula e o primeiro-ministro turco, Tayyiq Erdogan, a entregar 1,2 mil kg de urânio enriquecido a 3,5% para que o término do processo até 20% seja realizado no exterior, na França e na Rússia. A troca do material pelos 120 kg de urânio enriquecido a 20%, no prazo de um ano, seria realizada na Turquia, que exerceria o papel de território neutro na transação.

"O Irã pôs no papel, por escrito, coisas que nunca tinha posto antes. A entrega dos 1,2 mil kg de urânio iraniano, a não condicionalidade sobre o recebimento prévio do combustível, que afeta o fator tempo, que é fundamental", disse Amorim. "O Irã se dispôs a fazer a carta sem restrições para a Agência Atômica. Tudo isso cria uma situação absolutamente nova. Nós criamos uma maneira de possibilitar a assinatura do acordo, que não foi nós que propusemos", afirmou o chanceler.

Na opinião do ministro brasileiro, essas novidades na transação têm o efeito de pelo menos reabrir o caminho do diálogo, defendido pelo Brasil. Amorim disse que conversou hoje com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, para explicar-lhe os detalhes do acerto entre Lula, Erdogan e Ahmadinejad. A França é um dos seis países que discutem a aplicação de sanções ou não ao Irã pelo descumprimento do acordo de não-proliferação nuclear da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Britânico continua querendo sanções contra o Irã
Amanhã, Lula e Sarkozy devem se encontrar pessoalmente em Madri para tratar do assunto. Enquanto isso, mais cedo na tarde de hoje, o ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, disse a jornalistas brasileiros em Madri que "Lula fez uma excelente missão" e que "é muito bom que ele (Lula) tenha feito uma manobra destinada à paz". Kouchner não quis comentar o conteúdo do acerto antes de os dois presidentes se encontrarem pessoalmente.

Já o novo secretário de Estado das Relações Exteriores, Willian Hage, não pareceu convencido das boas intenções de Ahmadinejad. De saída do hotel Intercontinental, onde diversos chefes de Estado e delegações estão hospedadas em Madri - inclusive a brasileira -, Hage foi categórico: "Nós temos de continuar nossa resolução de sanções. Eles precisam reportar à AIEA o que de fato está envolvido (no acordo)", afirmou o chanceler britânico. "Nós temos de ver o que eles têm a dizer. Mas acho que o Irã tem muito mais a dizer para provar suas intenções pacíficas", disse.

Por telefone, Lula conversou sobre o acordo feito com Ahmadinejad com o presidente russo, Dimitri Medvedev, no início da noite de hoje. Segundo fontes da comitiva brasileira, o russo teria dito ao presidente brasileiro que conseguir um compromisso escrito de Ahmadinejad foi uma vitória pessoal de Lula. Medvedev também teria afirmado que tudo indicava para a aplicações de sanções ao Irã por não ter cumprido as determinações da Agência Internacional de Energia Atômica em relação ao seu programa nuclear, mas que Lula teria conseguido a oportunidade de as coisas seguirem um outro rumo.

Papel do Brasil em libertação de francesa
Amorim disse hoje que o Brasil desempenhou um "papel fundamental" na libertação da francesa Clotilde Reiss, que retornou no domingo a Paris depois de ter ficado retida durante dez meses no Irã. "Em todas as vezes que fui a Teerã, este assunto foi abordado. O papel do Brasil foi absolutamente fundamental", afirmou.

"Isso prova que o trabalho feito com discrição gera resultados, assim como a competência da diplomacia brasileira", disse. Segundo Amorim, o presidente Sarkozy havia dito há seis meses que qualquer negociação entre a França e o Irã era difícil em razão da situação de Clotilde Reiss. "Propusemos nossa ajuda por meio de uma mediação para que ela fosse libertada", afirmou o chefe da diplomacia brasileira.

A francesa, retida por ter participado de manifestações contra o governo, chegou no domingo à França após uma libertação que não foi fruto de um acordo secreto com Teerã, segundo Paris. O presidente Nicolas Sarkozy agradeceu "particularmente" ao presidente Lula, ao presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, e ao presidente da Síria, Bachar al-Assad, por seu papel "ativo" na libertação de Clotilde Reiss.

Com informações da Agência Brasil e da AFP.

Fonte: Especial para Terra
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