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Agência: peritos apontam 'confusão' entre pilotos do voo 447

4 out 2011 - 15h47
(atualizado às 18h36)
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Os especialistas judiciais que analisaram as duas caixas pretas do Airbus do voo 447 da Air France, que caiu no Atlântico em 31 de maio de 2009, indicaram uma "confusão na tripulação", segundo o relatório consultado pela agência AFP. "Até agora, peritos não tiraram nenhuma conclusão da consulta dos gravadores", avisa a introdução do documento.

O acidente, em maio de 2009, deixou 228 mortos
O acidente, em maio de 2009, deixou 228 mortos
Foto: EFE

De acordo com as gravações, os pilotos ficaram preocupados quando observaram uma grande concentração de radares no radar. "Temos uma 'coisa' bem na nossa frente", disse um deles. Isso foi à 01h35. A turbulência começou a aumentar meia hora depois. Porém, os especialistas explicaram no relatório que "a situação meteorológica tinha sido avaliada como não preocupante pelo comandante".

Poucos minutos depois, o piloto automático foi desativado. Na ausência do comandante, que foi descansar, o copiloto que assumiu "teve uma ação sobre o manche. Esta ação foi mantida de forma imprecisa e confusa". A aceleração vertical do avião continuou "aumentando de forma sensível", de acordo com os peritos.

Logo em seguida, o copiloto "manifestou seu espanto e incompreensão a respeito das informações que recebia", segundo o relatório. "Não tenho mais controle sobre o avião", teria afirmado o piloto quando o comandante voltou para a cabine. "Estamos perdendo o controle", repetiu outro piloto mais tarde.

Os especialistas também levantaram dúvidas sobre as "indicações visíveis nas telas". "Não tenho mais indicações", disse um dos copilotos. "Estamos indo em uma velocidade louca", completou outro. De acordo com os peritos, "a confusão começou a reinar entre os membros da tripulação". Diversas situações que comprovam isso constam no relatório.

Os pilotos "sequer mencionaram o início da perda de altitude do avião" que, segundo os peritos, "não foi percebido pela tripulação". Os especialistas explicam que, "apesar de alarmes sonoros e visuais", os pilotos pareciam "não ter identificado o problema e não ter tomado qualquer medida para resolvê-lo".

No início de setembro, o Escritório de Investigações e Análises da França (BEA, na sigla em francês), divulgou que formou um grupo de trabalho para analisar, entre outros aspectos, as ações e reações da tripulação nas fases finais do voo. Sete especialistas formam a equipe: três investigadores do BEA especializados em fatores humanos, um psiquiatra especialista em análise de risco, um consultor de fatores humanos em aviação e dois pilotos de Airbus A330.

O congelamento em sensores de velocidade foi a única falha técnica observada desde o início do inquérito, mas os especialistas afirmaram que esta não poderia ser a única causa do acidente. O relatório final das autoridades francesas deve ficar pronto em 2012.

As famílias das 228 vítimas do acidente devem ser recebidas na quarta-feira pela juíza de instrução Sylvia Zimmermann para receberem novas informações sobre a investigação.

O acidente do AF 447

O voo AF 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o voo fez o último contato via rádio. A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato e o avião desapareceu em meio ao oceano.

Os primeiros fragmentos dos destroços foram encontrados cerca de uma semana depois pelas equipes de busca do País. Naquela ocasião, foram resgatados apenas 50 corpos, sendo 20 deles de brasileiros. As caixas-pretas da aeronave só foram achadas em maio de 2011, em uma nova fase de buscas coordenada pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA) da França, que localizou a 3,9 mil m no fundo do mar a maior parte da fuselagem do Airbus e corpos de passageiros em quantidade não informada.

Após o acidente, dados preliminares das investigações indicaram um congelamento das sondas Pitot, responsáveis pela medição da velocidade da aeronave, como principal hipótese para a causa do acidente. No final de maio de 2011, um relatório do BEA confirmou que os pilotos tiveram de lidar com indicações de velocidades incoerentes no painel da aeronave. Especialistas acreditam que a pane pode ter sido mal interpretada pelo sistema do Airbus e pela tripulação. O avião despencou a uma velocidade de 200 km/h, em uma queda que durou três minutos e meio. Em julho de 2009, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores - até então feitos pela francesa Thales - por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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