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AF 447: famílias de vítimas repudiam relatório que culpa pilotos

29 jul 2011 - 11h28
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Celso Calheiros
Direto do Recife

O presidente da Associação dos Familiares Vítimas do Voo 447 (AFVV447), Nelson Faria Marinho, repudiou, na manhã desta sexta-feira, as informações do relatório do Escritório de Investigações e Análises (BEA) divulgado nesta manhã, dando conta de que decisões dos pilotos contribuiram para a queda do Airbus A330 da Air France no Atlântico, em 31 de maio de 2009.

As caixas-pretas foram apresentadas à imprensa e às famílias das vítimas poucas horas após chegarem à França
As caixas-pretas foram apresentadas à imprensa e às famílias das vítimas poucas horas após chegarem à França
Foto: AFP

Veja na íntegra relatório que aponta causas da queda do AF 447

Veja as novas recomendações de segurança do BEA

"A associação brasileira repudia essa versão. Ela não tem o menor sentido. Querem dizer que os pilotos têm culpa, mas os pilotos não são mágicos", afirmou Nelson Marinho. Ele disse já ter recebido e-mail da associação das famílias alemãs, que também repudia o relatório apresentado pelo BEA, com o resultado de investigações paralelas sobre o acidente. "Nós temos a opinião de um especialista alemão em aviação e ele aponta falhas de fabricação no Airbus", reforça Nelson Marinho.

Embora, tecnicamente, o trabalho do BEA seja apresentar os motivos que levaram a aeronave a cair, sem atribuir responsabilidade, Nelson Marinho acredita que os dados apresentados afirmam que os pilotos têm culpa. "Essa é a verdade que querem passar. Eles estão testando a opinião pública mundial que deve, com nós, repudiar esse entendimento", proclamou Nelson Marinho.

Ele vê um conflito de interesses nas investigações lideradas pelo BEA, órgão do governo francês. "O BEA não deveria fazer a análise das caixas-pretas. Veja que a França é sócia da Airbus e sócia da Air France", argumenta. "A análise do BEA sempre será acompanhada de desconfiança", repete.

Com as informações a respeito das últimas leituras gravadas nas caixas-pretas, Marinho lembra que os dados informados pelos tubos de Pitot eram contraditórios. "Se os tubos de Pitot falham, os pilotos são induzidos ao erro. Eles não podem fazer nada, a informação é contraditória", sustenta.

Nelson Faria Marinho perdeu o filho, Nelson Marinho, no voo que nunca chegou em Paris. Ele tinha 40 anos, trabalhava em prospecção de petróleo e estava no auge da carreira, na opinião do pai.

O acidente do AF 447

O voo AF 447 da Air France saiu do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo no dia 31 de maio de 2009, às 19h (horário de Brasília), e deveria chegar ao aeroporto Roissy - Charles de Gaulle de Paris no dia 1º às 11h10 locais (6h10 de Brasília). Às 22h33 (horário de Brasília) o voo fez o último contato via rádio. A Air France informou que o Airbus entrou em uma zona de tempestade às 2h GMT (23h de Brasília) e enviou uma mensagem automática de falha no circuito elétrico às 2h14 GMT (23h14 de Brasília). Depois disso, não houve mais qualquer tipo de contato e o avião desapareceu em meio ao oceano.

Os primeiros fragmentos dos destroços foram encontrados cerca de uma semana depois pelas equipes de busca do País. Naquela ocasião, foram resgatados apenas 50 corpos, sendo 20 deles de brasileiros. As caixas-pretas da aeronave só foram achadas em maio de 2011, em uma nova fase de buscas coordenada pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA) da França, que localizou a 3,9 mil m no fundo do mar a maior parte da fuselagem do Airbus e corpos de passageiros em quantidade não informada.

Após o acidente, dados preliminares das investigações indicaram um congelamento das sondas Pitot, responsáveis pela medição da velocidade da aeronave, como principal hipótese para a causa do acidente. No final de maio de 2011, um relatório do BEA confirmou que os pilotos tiveram de lidar com indicações de velocidades incoerentes no painel da aeronave. Especialistas acreditam que a pane pode ter sido mal interpretada pelo sistema do Airbus e pela tripulação. O avião despencou a uma velocidade de 200 km/h, em uma queda que durou três minutos e meio. Em julho de 2009, a fabricante anunciou que recomendou às companhias aéreas que trocassem pelo menos dois dos três sensores - até então feitos pela francesa Thales - por equipamentos fabricados pela americana Goodrich. Na época da troca, a Thales não quis se manifestar.

Fonte: Especial para Terra
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