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Advogada diz que foi intimidada por Paes em abordagem; prefeito nega

Prefeito teria se irritado com música que o chama de ladrão e pediu para que ela encostasse o carro para que ambos conversassem, quando trafegavam pelo centro do Rio de Janeiro. Fato ocorreu na manhã do último sábado

31 jan 2014 - 08h40
(atualizado às 10h01)
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Ouça trecho da conversa de Paes com advogada militante:

Sábado, 25 de janeiro, 11h30. Luisa Maranhão, advogada de formação e ativista ferrenha, trafegava pela avenida Rodrigues Alves, na região portuária do Rio de Janeiro junto com a irmã, no banco do carona. Luisa é figura conhecida das manifestações. Foi voluntária do Instituto de Defensores de Direitos Humanos, o DDH, grupo de advogados que auxilia a soltura de manifestantes detidos nos atos que eclodiram em junho de 2013 e candidata a cargos públicos sempre por partidos rivais dos que hoje comandam a capital fluminense.

Ela também circula entre os principais líderes dos protestos no Rio e, naquela manhã, dentro do próprio carro, escutava a seguinte música, em alto e bom som, criada por PH Lima, outro rosto conhecido das manifestações – foi ele quem liderou, por exemplo, o “rolezinho” no Shopping Plaza, em Niterói, há duas semanas.

Ouça trecho da música que irritou prefeito Eduardo Paes:

O vídeo foi editado, como se pode notar, para chamar atenção ao refrão. O rap “O Bandido do Rio”, que tocava no carro da advogada, tem o seguinte trecho, depois de citar algumas das mazelas do Rio de Janeiro: “o nome do bandido é Eduardo Paes”. Possivelmente, como o carro da advogada possui caixas de som externas, daquelas que você consegue falar com um microfone, foi esse o trecho que chamou a atenção do prefeito da capital fluminense que, coincidentemente, passava pelo local junto de sua comitiva, segundo o relato de Luisa ao Terra. Em dois carros e uma moto, Eduardo Paes, em carne osso, abaixou o vidro, e emparelhou com o carro.

“Eu comecei a ouvir uma voz: 'encosta aí, para o carro aí. Vamos conversar'. Eu olhei para o lado, vi o rosto e eu não acreditei. Era o rosto do Eduardo Paes”, relembra a advogada. “O motorista ficava emparelhando para eu encostar. Fiquei em pânico”, complementa. Luisa encostou o carro. E conta que viu o prefeito do Rio saltar de um dos carros com um smartphone em mãos, gravando em vídeo, e chegar até a janela da motorista, na foto que circulou nas redes sociais esta semana e motivou esta reportagem.

“Ele perguntou se estava tudo bem. Eu disse que mais ou menos. Aí ele mandou: ‘quem te contratou, quem te contratou?’, repetiu. `Quem te pagou para colocar esse carro de som aí?`. Eu sou advogada ativista. Ninguém me pagou nada. E não vou omitir este fato. Eu me senti coagida. Numa situação constrangedora. Não tem nenhum contratado. 'O que está acontecendo? O que você quer saber?', perguntei para ele. Foi uma situação surreal”, recorda. 

No momento da abordagem do prefeito, de acordo com a advogada ativista, ela teve a preocupação de ligar para um amigo que serviria de testemunha da cena inusitada, que foi acompanhada por quatro seguranças pessoais do prefeito. “Ele foi incisivo e intimidativo. Eu estava sozinha ao lado de uma pessoa especial, que é portadora de esquizofrenia paranoia. Se fosse eu que tivesse feito uma abordagem no carro dele, qual seria a reação dos seguranças em relação a mim? Que direito que ele tem? Qual o poder de polícia que ele tem de interromper o trajeto de cidadão?”, reclama, ainda.

Em meio à conversa com o amigo, ela conta que, no momento em que a ligação foi interrompida, o prefeito a interpelou: “com quem vocês tava (sic) falando aí?”. Luisa afirma que respondeu que “eu sou uma cidadã e pago os meus impostos” para não dar maiores explicações. Por fim, ela conta que Eduardo Paes ofereceu o número próprio de celular e a convidou para visitá-lo em seu gabinete. Deu bom dia e se despediu. Ela estima que a abordagem durou cerca de 15 minutos.

“Até agora eu não tenho essa resposta de como ele nos abordou para me perguntar quem é que me contratou. Bizarro, né?”, finaliza a advogada. Ela diz ainda que, incomodada com a situação, estuda a melhor forma de fazer um registro de ocorrência contra Paes na delegacia da região central do Rio.

O outro lado

A assessoria de imprensa do prefeito Eduardo Paes confirma que, de fato, houve esse encontro na região portuária, mas que os fatos relatados pela advogada não são 100% verdadeiros. Primeiramente, Paes afirmou por seus assessores que estava pela área averiguando obras do futuro Museu do Amanhã, bem próximo ao local, e do viaduto da Perimetral, fechado inteiramente ao tráfego justamente no último sábado.

Ele explicou que, sim, escutou o que seria um “funk” que o chamava de ladrão, mas que a própria advogada, ao avistá-lo, fez que questão de “mexer com ele”. Em nenhum momento o prefeito diz que fez qualquer tipo de ação intimidadora, e que apenas queria conversar com a advogada militante, e que o fato de estar em comitiva é de praxe, uma vez que ele, como autoridade, sempre anda acompanhado de um estafe de segurança.

Sobre o fato de descer do carro filmando a advogada, o prefeito do Rio explicou que apenas iniciou a filmagem, porque foi Luisa Maranhão quem, inicialmente, estava o filmando e que achou por bem fazer o mesmo – mas que não tem esse material, pois se confundiu e tirou uma foto, ao invés de colocar o display de vídeo para funcionar.

Novamente, Paes reafirma que só queria conversar, que ofereceu o seu telefone celular próprio e de seu ajudante direto e que “a rua não seria o melhor local para eles conversarem”. Por isso, depois de ficarem sentados numa mureta embaixo do viaduto da Perimetral, na sua versão, com os seguranças longe, insistiu no convite para que a advogada fosse conversar com ele em seu gabinete na Prefeitura, sempre com respeito, sem tom ameaçador, ao contrário do que a advogada revelou nesta reportagem. 

Fonte: Terra
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