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Oriente Médio

Acordo consolida atuação do Brasil no mundo, dizem analistas

18 mai 2010 - 08h53
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O acordo sobre o programa nuclear iraniano firmado na segunda-feira em Teerã consolida a atuação do Brasil no cenário internacional, afirmam analistas ouvidos pela BBC Brasil nos Estados Unidos.

O entendimento foi obtido com a mediação do Brasil e da Turquia e anunciado durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã.

"O acordo mostra que Lula é capaz de ir a campo e conseguir algum tipo de entendimento", diz o jornalista e pesquisador Douglas Farah, do International Assessment and Strategy Center.

"Ajuda o Brasil e a Turquia, mas principalmente o Brasil, a se estabelecer como um ator importante no cenário mundial", afirma Farah.

O analista Alireza Nader, especialista em Irã da Rand Corporation, faz uma avaliação semelhante.

"O Brasil conseguiu elevar sua importância ao lidar com uma questão tão delicada como essa", diz Nader.

Cautela

O acordo aceito pelo Irã na segunda-feira teve como base uma proposta apresentada ao país em outubro do ano passado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

O Irã se comprometeu em enviar 1,2 mil kg de urânio com baixo nível de enriquecimento (3,5%) para a Turquia. Em troca, vai receber urânio enriquecido a 20%, para ser usado em um reator para pesquisas médicas.

O acordo foi comemorado pelo presidente Lula como uma "vitória da diplomacia", mas foi recebido com cautela e ceticismo por grande parte da comunidade internacional.

Os Estados Unidos, que vinham pressionando por uma nova rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) contra o Irã, disseram que o acordo é vago e não afasta os temores quanto ao programa nuclear iraniano.

O governo americano e seus aliados temem que o Irã planeje secretamente desenvolver armas nucleares e buscam a imposição de sanções para pressionar o país a interromper seu programa de enriquecimento de urânio.

O Irã nega as alegações e, apesar de sanções anteriores, continua se recusando a interromper o processo de enriquecimento de urânio que, segundo o governo, tem fins civis, não militares.

Sanções

O Brasil é contra as sanções e há meses vinha se empenhando em conseguir uma solução pacífica para a questão nuclear iraniana.

Segundo o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, as negociações começaram em novembro do ano passado, quando o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, visitou o Brasil.

Amorim disse esperar que o acordo evite uma nova rodada de sanções contra o Irã.

A Casa Branca, porém, já avisou que o Irã deve demonstrar seu comprometimento "por meio de ações, e não apenas de palavras" e que, enquanto isso, vai continuar buscando a aprovação de novas sanções.

No entanto, segundo os analistas consultados pela BBC Brasil, o acordo pode dificultar a aprovação de uma nova resolução da ONU contra o Irã.

"O acordo vai tornar as sanções um pouco mais difíceis", diz Farah.

China

Nader também afirma que o acordo pode dificultar as negociações sobre sanções no chamado P5 + 1, grupo que reúne os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China) e a Alemanha.

"Se algum desses países interpretar o acordo como prova de que o Irã está agindo de boa-fé, poderá se posicionar contra novas sanções", diz Nader.

O analista se refere especialmente à China, que ainda não deu um sinal claro de que vá apoiar uma nova resolução.

O Brasil, assim como a Turquia, tem uma vaga rotativa no Conselho de Segurança, sem direito a veto.

Analistas afirmam, porém, que a posição contrária dos dois países quanto a novas sanções prejudicaria a mensagem que os Estados Unidos e seus aliados desejam passar, de que a comunidade internacional estaria unida em sua postura em relação ao programa nuclear iraniano.

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