Jogos do Rio tentam sair da sombra da crise

26 abr 2016 - 19h41

Além de escândalos de corrupção e do processo de impeachment, evento é ofuscado pela recessão econômica a cem dias de seu início. Comitê organizador é obrigado a apertar o cinto, e crescem suspeitas sobre obras.

Quando o Rio de Janeiro foi eleito sede dos Jogos Olímpicos, em 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a escolha marcava a estreia do Brasil no palco internacional. Com o preço das commodities explodindo, somava-se, ao mercado emergente considerado um país do futuro, a promessa de Jogos memoráveis.

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Agora, a apenas cem dias do megaevento esportivo, o Brasil atrai atenção internacional pelos motivos errados, que ameaçam ofuscar os primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul. A crise política e o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, um escândalo de corrupção sem precedentes e a recessão econômica abalam os preparativos e tornam ainda maior o desafio de sediar um evento do tipo.

"O duplo golpe político e econômico desviou a atenção dos Jogos Rio2016", afirma Jules Boykoff, professor da Pacific University, nos EUA, e autor de Power Games: A Political History of the Olympics (Jogos de poder: uma história política das Olimpíadas, em tradução livre).

Corte de gastos

Em meio às turbulências atuais, Nawal el-Moutawakel, presidente da Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional (COI), descreve o clima no Brasil como "um ambiente complexo, política e economicamente".

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Os organizadores afirmam que desde o início houve um controle rigoroso sobre o orçamento de 7,4 bilhões de reais. Mas com o país mergulhando em sua pior recessão em mais de 20 anos e vendo sua economia encolher 3,8% no ano passado, os gastos previstos para os Jogos foram cortados em cerca de 850 milhões de reais.

"Tivemos cortes de gastos porque precisávamos equilibrar o orçamento [...] Temos que garantir que tudo o que gastamos, tudo o que usamos tem um motivo", disse à DW Mario Andrada, diretor de comunicação da Rio 2016. "Ninguém recebe um cheque em branco para os Jogos Olímpicos. Precisamos transmitir às pessoas uma mensagem muito importante, de transparência e de que não estamos gastando excessivamente."

O comitê organizador afirma que a empresa de pesquisa de mercado Nielsen identificou que os Jogos têm um índice de aprovação de 70% entre a população do país. De início, a venda de ingressos foi lenta, mas agora, os organizadores dizem que as coisas estão "no caminho certo".

No entanto, muitos temem que as manifestações relacionadas à crise política se alastrem para os Jogos. "Temos o ambiente perfeito para protestos, no sentido de que temos gastos elevados, desalojamentos, vamos ver uma militarização do espaço público", afirma Boykoff, que passou quatro meses no Brasil no ano passado. "Circulei por todos os cantos do Rio e falei com pessoas de todas as orientações políticas e foi muito difícil encontrar alguém que estivesse animado com os Jogos Olímpicos."

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Efeito da Lava Jato

A imagem dos Jogos também foi abalada após a Lava Jato apontar o envolvimento de grandes construtoras brasileiras no escândalo de corrupção na Petrobras. Sete das empresas investigadas – incluindo Odebrecht e Andrade Gutierrez – apareciam em 11 projetos essenciais para o megaevento esportivo.

O consórcio responsável pela Linha 4 do metrô, por exemplo, é liderado pela construtora Queiroz Galvão, com participação da Carioca Engenharia e da Odebrecht – todas investigadas na Lava Jato. Repetidamente atrasadas, as obras devem ser inauguradas cerca de um mês antes dos Jogos, que começam em 5 de agosto, apesar de o governo buscar 1 bilhão de reais extras do governo federal para completar a linha.

"Não há escassez de material apontando para irregularidade por parte de empreiteiras que estão construindo as instalações olímpicas", diz o advogado Jefferson Moura, que lidera pedidos de abertura de inquérito sobre os gastos com os Jogos.

A campanha para investigar obras do evento ganhou força com a queda de um trecho da recém-inaugurada Ciclovia Tim Maia, que deixou dois mortos na semana passada. A via, que liga os bairros do Leblon e São Conrado, custou quase 45 milhões de reais e era um dos projetos do legado olímpico.

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A prefeitura da cidade prometeu uma investigação completa sobre o acidente. Andrada disse que o comitê organizador local está disposto a colaborar com o inquérito.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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